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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

072 > Charles correndo além da conta...

E como o Casé reapareceu?...
Pelo menos para mim, com a surpreendente mensagem:mestre Guina, dá os parabéns ao Charles pelo dia que ele correu de Teresópolis até o Fundão“.
Não entendi... Pedi ao Charles que explicasse e ele contou uma quase incrível
HISTÓRIA DA CORRIDA TERESÓPOLIS-OLARIA
Charles Guimarães Filho
            Antes da década de 70 > Corrida para mim se dava através da minha paixão por jogar futebol. Mas, sempre gostei de ultrapassar certos limites físicos, como sair de Olaria e ir andando a pé pela Ilha do Governador e voltar.
            1970 > Três empregos, filho recém nascido, engordei, sem tempo para nada, duas coisas: corria em volta da mesa onde morava em Ramos e comprei uma bicicleta e ia para o trabalho no Fundão na UFRJ.
            1971 > Nasce mais um filho, morando em Icaraí caminho na praia.
            1972 > Vou para Maringá no Paraná, começo a correr pelo parque e cidade. Faço musculação e pratico luta marcial.
            1973-1982 (demorou cerca de dez anos, o que vem a seguir não sei exatamente os anos e nem a ordem) > Nasce mais um filho, vou morar na Granja Guarani em Teresópolis e coloco a meta de correr até o Rio de Janeiro. Começo a correr em volta do lago Iacy com cerca de 200 metros de perímetro e consigo dar 50 voltas. Resolvo ir até o mecânico correndo pela rua e voltar, o que dava uns 8 quilômetros (naquela época, as pessoas ficaram admiradas, bem como na rua faziam muita gozação como “tá fazendo cu perfeito”, por causa do método Cooper).
            Quando chegava do trabalho no Rio de Janeiro ia a favela perto da minha casa e as crianças começavam a gritar “Seu Charles chegou” e as mães “Bota o casaco, menino”, e corríamos até o final da Várzea e voltávamos, o que dava uns 10 km (muitos que encontro lembram com saudade esses eventos). Os que não agüentavam e ficavam pelo caminho aguardavam a nossa volta, muitas vezes alternava-os na minha “garupa” (nessa ocasião, eu já era muito forte, para dar uma idéia eu tinha 45 cm de braço).
            Dou volta pela Rio-Bahia contornando a cidade de Teresópolis (1ª entrada), o que dá uns 16 quilômetros, em menos de duas horas. Era comum os meus filhos irem de bicicleta e eu correndo. Qualquer estouro de pneu era bicicleta no ombro, misturado com filho na “garupa”. Cheguei a descer a serra andando e correndo com meus filhos pequenos o que dava uns 16 quilômetros. Fomos também ao Rio de Janeiro de bicicleta (uma só de ida e a outra de ida e volta, o que dava cerca de 160 km.).
            Passo a correr com freqüência agora ouvindo rádio (atenção: o rádio era muito, muito grande e a gozação do povo muito mais). Mas, isso era necessário porque depois de fortalecer o cardio-respiratório e as pernas a luta passou a ser contra “o que eu estou fazendo aqui?” e o rádio amenizava por distrair e fazer companhia.
            Faço o contorno pela 2ª entrada, o que dá 20 quilômetros. Depois, 3ª entrada: 25 km. Começo a levar dinheiro para beber groselha pelo caminho, algo instintivo que mais tarde descobriram a razão. (acho que em muitas coisas fui pioneiro, inclusive participei da 1ª corrida: Leme-Leblon).
            Não tenho ninguém que me acompanhe, então começo a correr assim no Fundão, quando ia dormir na casa dos meus pais: 5-6h sozinho, 6-7h com uma pessoa, 7-8h com outra. Quando dava tempo ia fazendo assim até 10 horas. Esse mesmo esquema fazia para Teresópolis nos fins de semana.
            Encontro um bombeiro em Teresópolis que conseguiu me acompanhar. Esse passou a ser durante anos o meu companheiro. Passamos a fazer umas cinco horas de corrida nos fins de semana. Íamos pela Teresópolis-Petrópolis subindo e descendo serra. Teresópolis-Friburgo. Por dentro de fazendas e morros de Teresópolis. Descendo e subindo serra para o Rio.
            Um ano antes do feito, corria de madrugada, por saber que iria começar dessa maneira, a fim de fugir o máximo do Sol. Arrumei um funcionário do Fundão que tinha parente em Imbariê (cerca de 30 km da UFRJ) para me aguardar naquela localidade, pois sabia que precisava de alguém para me dar o ritmo, já que depois de 50 km vindo de Teresópolis não saberia bem o que iria acontecer.
            No dia, ou melhor, a meia-noite, após comer dois pratões de coalhada, um com mel e outro com melado, fui descendo a serra e bebendo água pelo caminho, quando o dia clareou já estava em Imbariê. Ali eu e o funcionário nos encontramos. A idéia era ir até o Fundão, mas ele ao chegar no Porcão na Avenida Brasil/Penha não agüentou, então continuei e fui até a casa da minha mãe na rua Lígia. Almocei, tomei banho e fui tomar conta de prova no Fundão.
            Ao todo foram mais de 80 km em cerca de onze horas de corrida, numa velocidade média de 8 quilômetros por hora.
            Obs: quando terminei de fazer esse feito, soube que havia gente no estrangeiro fazendo mais de 100 km. Olhei todo esforço que foi e resolvi não continuar nessa direção. Pensei em manter 20 km por dia e uma maratona no fim de semana. Mas, acabei deixando por 10 km sem maratona nenhuma. Com o passar de tempo passei a caminhar todos os dias cerca de 7 km, em pouco mais de uma hora. Fiz esteira e fiquei entusiasmado por andar nela no máximo de aclive até na velocidade de 10 km. Resultado: ferrei o tendão no joelho, que está melhorando após quase dois anos de tratamento. Hoje faço o “transport” e natação para evitar impacto.
            Espero que tenha atendido,
Abraços do amigo, Charles.

Perguntei como o Casé soubera disto...
Gostaria de registrar que em 1969, por problemas políticos, tive que ir trabalhar no interior, quando voltei não mais encontrei o Grupo de Olaria. Ainda tive contatos com alguns: uma vez com Emílio no seu escritório, se não me engano na Ilha do Governador, umas três vezes com Bandeira, inclusive pelo menos uma foi na minha casa, e uns (ou um) foram alunos meus na Engenharia Química na UFRJ. Nesse momento, infelizmente, a minha memória não me ajuda a ser preciso. Casé disse que ele foi, só que não me recordo do seu rosto, às vezes penso ser um dos irmãos cujo nome de um deles parece que era Augusto [Seria o Dori?]. Teve também a Fernanda, que estudava pela UFRJ (?).
Eu comentei: “parecia piada, uma brincadeira qualquer entre você e o Casé”...
Infelizmente, a brincadeira não foi entre nós. Isso nasceu, cresceu, desenvolveu e morreu apenas dentro de mim mesmo. O próprio bombeiro que passou a ser durante anos o meu companheiro de corrida não quis me acompanhar naquela aventura, bem como nunca mais o vi. (...) Não consigo nem me recordar como ele soube que eu fiz esse trajeto. Provavelmente, ele foi meu aluno em 1971 ou 1973 no máximo (quando comecei a pensar no assunto Terê-Rio).
Diz que não tem fotos da época, não se ligava nisto, e termina com mais uma observação:
Obs: eu escrevi para vocês algo que procurei e notei que não tenho mais no meu computador. Pois bem, nessa eu comentava a possibilidade da gente saber o que cada um fez da década de 60 até os dias de hoje. A minha trajetória, se quiserem conhecer, está no meu site www.charlesguimaraesfilho.com.br, tenho inclusive foto minha atual, onde fixa bem o que o tempo fez comigo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

040 > As prisões do AI-5

O assunto está na pauta há tempos, mas ninguém contava por inteiro a história! 
Apenas algumas referências, não dava para editar... 
O Charles até que contou a sua “não prisão”, a escapada para Minas Gerais (em 032 > Ativismo na Igreja de São Geraldo), que repito aqui:

. Perseguição e Desaparecimento – No final de 1968 houve um mandato de prisão para três do nosso grupo: eu, Perfeito e Emílio. Os dois foram presos juntamente com Caetano Veloso e Gilberto Gil. No momento em que estes dois integrantes do grupo de jovens eram presos, fui avisado de que eu seria o próximo, consegui fugir e fui trabalhar no interior de Minas Gerais.


Há poucos dias encontrei Antonio Valente, que lembrou que estava na São Geraldo quando “os homens” vieram, ficou de escrever sobre...
Eu vagamente lembro que cheguei na igreja e tinha acontecido. Conversas sussurradas, ambiente clandestino, acho que voltei disfarçadamente para casa...

Eis que o dia chegou e ia passando...: 13 de Dezembro!
Aí, o Mauricio mandou esta mensagem, em caixa alta:
HOJE FAZ 42 ANOS DO FAMIGERADO A.I. 5, DE TRISTÍSSIMA MEMÓRIA, QUE TANTO MARCOU O PAÍS, A NOSSA GERAÇÃO E A TURMA DE OLARIA. SOBREVIVEMOS E COM GRANDE DIGNIDADE.
FRATERNO ABRAÇO A TODOS OS AMIGOS/AS.

Então, é a hora!
Abaixo, um fragmento recuperado dos nossos e-mails: fala, Banzé!
E a feira de artesanato na Praça de Bonsucesso, do dia 13 de dezembro de 1968, sexta-feira, que coincidiu com a decretação do AI-5 às 18 h, quando Emílio e Perfeito foram presos ao sair da Igreja com as bugigangas que íamos vender?
O Cony e o Dori, acho que o Álvaro também, me avisaram para eu me mandar porque estavam procurando por mim. Até hoje não sei se isto era verdade ou não mas na dúvida arrumei a mochila e vim parar em Caeté.
Caramba! São muitas lembranças e eu só me vejo metido nos casos políticos deste grupo.
Somente as meninas visitaram Emílio e Perfeito na prisão porque era mais seguro, era assim que se falava e se falava baixo ao pé do ouvido com receio de alguém escutar. Que merda!

Em comentário no 031 > O curso do Artigo 99, Bandeira já lembrara:

 (...) a repressão do regime militar que se abateu sobre nós, de forma violenta, naquele final de 1968 ("O Ano que não terminou", leiam a obra do Zuenir Ventura!), com a edição do AI-5 e a prisão de Perfeito, Emílio (mais quem?), exatamente quando nos preparávamos para participar de uma feirinha na Praça das nações, em Bonsucesso, para angariarmos fundos para ajudar na compra de uma casa para uma senhora pobre que morava no hoje "Complexo do Alemão", em Olaria (lembro-me: estava voltando do Colégio Ferreira Viana, no famigerado Caxias-Praça da Bandeira, quando ouvi pelo rádio do ônibus que havia sido editado o AI-5, e ao chegar na Pça. das Nações, encontrei todo mundo assustado, com a notícia da prisão dos companheiros...)

É assunto para muitas mais versões e reflexões!
Volto a abrir o espaço à participação de todos...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

035 > Pedindo carona com Perfeito Fortuna até Montevidéu no Uruguai

. Avenida Brasil, altura de Olaria – Sem destino, sem dinheiro, sem democracia, apenas com polegar implorando por uma carona numa noite fria e chuvosa de inverno. Eu, brasileiro de maior com 23 anos de idade, acompanhado de um português do Porto, de menor com 17 anos de idade, que de perfeito e fortuna só tinha no nome, embora espiritualmente fosse merecedor.
. Jamanta – Após uma hora de “new mendicant”, eis que pára um caminhão grande transportador de carros, que para nossa sorte no momento não levava nenhuma carga. Subimos na carreta e logo que essa jamanta começou a se movimentar começamos a perceber que nada seria fácil. Era, além de frio e chuva, também vento e perigo.
. Resende – Duas horas de desconforto rodando pela Rodovia Presidente Dutra e rolando na carreta, saltamos neste município. Tudo escuro, meia noite. Andamos um pouco para avistar a visível Academia Militar das Agulhas Negras e não enxergar a idéia de jerico que estávamos tendo: pedir para dormir lá, em plena Ditadura. Resultado...
. Caminhão – Nós sentados na cabine, no volante um caminhoneiro dirigido por “rebite”, fumo diverso e bebida variada, trocando freio por acelerador, sob a suspeita de anfetaminas. Quando deu carona a uma prostituta a nossa suspeita se confirmou, pois ele ficou eufórico com a cortesã e alucinado com a gente em pensar que éramos “inimigos”.
. Piedade – Por ciúme e compaixão fomos abandonados perto deste município de São Paulo. O jeito foi criar as premissas para o movimento dos sem teto. Pela manhã numa igreja, jogando aquele conto do vigário no padre, demos uma palestra sobre dinâmica de grupo que deu para arrumar uns trocados.
. Mahtma – Eis que surge uma grande alma, só que gêmea. Dois seres humanos, para nós perfeitos, nos colocam no seu carro com conforto. Numa parada perguntam se vamos comer, resposta mentirosa “não, não estamos com fome”. Dizem eles: “Então sentem conosco para fazer uma boquinha”. O que acabou virando um bocão.
. Curitiba - Noite gélida. Com referência na casa de uma pessoa, lá fomos nós bater na porta dela. Que furada! Eram tanto filhos, parentes e, se bobear, amigos, que não havia a menor chance de acomodação. Pedimos desculpas àqueles com cara de sono pelo importuno da hora, agradecemos a sinceridade do “não há vaga” e tocamos a andar sem rumo.
. Mahtma II – Sabe quando um desespero bate, adormece, sonha com um anjo que aparece, milagre vem, só que não lembra de nada?... Pois bem, foi isso que aconteceu. Eu só sei que fomos transportados para Caxias do Sul no Rio Grande do Sul indo parar de fronte a mansão de quem havia patrocinado o maior evento do gênero na América Latina.
. Palacete – Estamos dentro dele acolhidos por cobertores, lareira acesa e cheio de comida. Contando uns acham que não foi prodígio não, consideram que de uma boa conversa ninguém escapa. Naquela ocasião, desconfiei que fora admiração, um compartilhamento de uma aventura que talvez quisessem fazer mais que faltasse coragem de realizar.
. Ambulância - Chega ao nosso socorro quando já não agüentávamos mais de tanto pedir carona. Entramos todos contentes naquele carro de transporte de doentes e feridos. Só que a alegria durou pouco. A expectativa de ir para Porto Alegre, viagem de duas horas se transforma numa de 12 horas de quase mil quilômetros na fronteira com a Argentina.
. Gaúcho – Morador dos pampas com seu veículo em movimento nos fazem, ao sair de Uruguaiana, ver através dos vidros um campo de perder de vista com gado bovino numa vegetação composta por gramíneas. Três horas se passam e estamos em Santana do Livramento, fronteira com o Uruguai.
. Passagem – Tanto faz ir para capital do Rio Grande do Sul como para capital do Uruguai porque a distância de quase 500 km é a mesma, existem ônibus para ambas. Só que fomos informados de que a garagem de um deles era mais perto, porém que nunca deu um gratuito. Sem nada a perder, fomos, ganhamos no papo e nas duas passagens.
. Ônibus – Sonho que estamos viajando num auto-ônibus internacional, todavia a julgar pelas faces críticas aos nossos aspectos e cheiros se trata de uma veracidade. Contudo, o que é isso diante de se estar viajando com um menor português com cara de terrorista para um país onde as Forças Armadas desaparecem com os guerrilheiros Tupamaros?
. Montevidéu – Passeando na cidade sob a tensão de termos nossos passos confundidos com uma operação da organização de guerrilha urbana uruguaia, bem sob o roncar da barriga pela fome, resolvemos ir para algo seguro. Fomos para o Consulado Geral do Brasil. Seguro!? Fizemos amizades com um funcionário e alguns que faziam atividades por lá.
. Exército da Salvação – Só que não adiantou nada em termos de mordomia e fomos parar no “sopa, sabão e salvação”. Dormimos no quentinho pelo acúmulo de tantos corpos humanos, inclusive de pulgas. Até o sapato foi para debaixo da cabeça, não para servir de travesseiro não, foi receio de haver algum extravio ou “seqüestro” em moda.
. “Ajuda” – Para evitar possíveis problemas para eles, fomos “premiados” com duas passagens só de ida para a fronteira Uruguai-Brasil, mais exatamente para o Chuy, onde se avistava a segunda maior lagoa brasileira. Obviamente que nós é que ficamos com um problema: como passar na fronteira sem passaporte e com um menor português?
. Traficante – A turma do tráfico ofereceu carona num carro com fundo falso cheio de “mercadoria”, problema que nunca soube o que era. Lá vamos nós com eles passando por uma barreira militar fortemente armada e fracamente fiscalizada. Graças ao São Jeitinho não fomos parar em nenhuma cadeia de qualquer nação.
. Retorno - Para encurtar a história. Empregando os recursos adquiridos na viagem chegamos a Porto Alegre e compramos passagens para o Rio de Janeiro. Viajamos mais de 1.500 quilômetros em torno de 20 horas, movidos por sanduíches e com a certeza de que valeu a experiência de viver sem dinheiro, apenas com as nossas personalidades.

Charles Guimarães Filho

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

032 > Ativismo na Igreja de São Geraldo

Com iniciativa de Bandeira, esforço de Natália e contato de Guina, reaparece o Charles!
E ele envia seu depoimento:
MINHA ATIVIDADE EM 1968 E 1969 - GRUPO DE JOVENS DA IGREJA DE SÃO GERALDO
. Contexto Político – Em 15 de março de 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar. A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.
. Atuação no Movimento Estudantil do Rio de Janeiro – Eu era estudante da Universidade Santa Úrsula (USU) neste período e participava dos movimentos estudantis. Havia sido Presidente do Diretório da USU e tinha relações com a Juventude Universitária Católica (JUC). No fim do ano de 1968 me formei nesta universidade.
. Grupo de Jovens da Igreja de São Geraldo em Olaria – Esta Igreja, da responsabilidade de três padres espanhóis - Antônio (dirigente), Cipriano e Severiano (auxiliares) -, formara um grupo de jovens. A minha contribuição naquela ocasião foi a de proporcionar atividades que colaborassem na conscientização e engajamento da comunidade de Olaria na redemocratização do país.
. Algumas das Atividades – Jogral na barca Rio-Niterói. Peças teatrais na rua, segundo a metodologia do Teatro do Oprimido. Filmes “subversivos” passados na própria Igreja. Luta pela reabertura de uma biblioteca de Olaria. Palestras em outras igrejas. Viagem sem dinheiro e pedindo carona com Perfeito Fortuna até Montevidéu no Uruguai.
. Perseguição e Desaparecimento – No final de 1968 houve um mandato de prisão para três do nosso grupo: eu, Perfeito e Emílio. Os dois foram presos juntamente com Caetano Veloso e Gilberto Gil. No momento em que estes dois integrantes do grupo de jovens eram presos, fui avisado de que eu seria o próximo, consegui fugir e fui trabalhar no interior de Minas Gerais.
. Anos Depois – Soube que criaram um curso gratuito, fizeram viagens, os padres abandonaram o sacerdócio e se casaram, meu pai se tornou o chefe deste grupo, minha filha participou. Tive algum contato com: Perfeito, integrante do Asdrúbal e dono do Circo Voador; Emílio, que se tornou médico; José Antônio Bandeira, sociólogo; Fernanda, área/saúde.      
. Quem fui, sou e fiz – Tive três filhos: Demétrius (1970), Ulisses (1971) e Natasha (1974). Era para ter mais três. Desde 1983 convivo com Ana Luiza, tendo me casado com ela na Igreja Messiânica Mundial do Brasil em 1991.
Para maiores detalhes visite meu blog:
http://charles-cgf.blogspot.com
Charles Guimarães Filho

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

020 > Tempos que deixaram saudade. Ou não...

Carlos mandou este texto, que diz tudo.

São 40 anos e a vida de cada um tomou rumos diferentes. Daí as pessoas serem hoje, às vezes, muito diferentes do que eram. Ou não. O que pesa na nossa história é termos nos formado adultos a partir de um tempo de convívio íntimo que nos deu valores, ética, projetos de vida e permitiu reflexões do vivido a cada momento. Aquele tempo era muito especial. Não o tornei um fetiche. Era um tempo com alegrias e tristezas, esperança e desesperança, satisfação e decepção. Como todo o tempo da vida. E essa mesma vida que nos dirige a todos, guardando o inesperado a cada dobra de esquina, nos leva a sermos o que somos e não querermos, mesmo que provisoriamente, algo ou alguém. Isso é o que penso sobre o episódio. Tudo bem! Ficamos com o que temos e que é muito bom.
Alguém tem alguma dúvida da crueldade presente em crianças e adolescentes? Quem duvida sofre de amnésia! Alguns mais do que os outros cometem absurdos para os adultos que somos. Fiz e fizemos um monte de "maldades", mas faz parte do jogo da adolescência. A turma, a panela, o grupo, o grupelho são estratégias de sobrevivência no cotidiano.
Pensem bem. Quem foi adolescente nos idos dos 60 enfrentou um tempo de mudança brusca dos costumes. Um movimento de mudança que gerou conflitos geracionais enormes, sofrimentos necessários para compor os adultos éticos que tenho certeza somos hoje. Meio assustados com o resultado dessas mudanças todas. Fico pensando o que seria uma Adriana, ou uma Cristina, ou uma Lúcia ou uma Vera ou Natália e todas as outras, enfrentando a barra de serem mulheres em um tempo de afirmação de uma nova mulher, completamente oposta as desperate housewives que eram as nossas mães; a maioria, pelo menos. Fico pensando o que eram os Luizes, os Augustos, Os Luíses Césares, os Paulo, os Emílios, os Paulinhos, os Guinas, os Dervais e todos os outros enfrentando a barra de serem homens diante dessas novas mulheres. Foi foda, né? Mas a gente sobreviveu e muito bem, acredito. Penso que a Turma de Olaria foi fundamental para nossa bagagem ética, nosso compromisso com o Humano e o mundo. Tenho muito orgulho desse tempo, em que pese os exageros, a irreverência, a maledicência do momento. Era tentativa de afirmação e diversão e de enfrentamento. Lembro do casamento do Charles, completamente fora dos padrões e que a noiva dele, por sinal, belíssima, disse na hora da troca de alianças que se casava com ele porque o amava e o amava porque ele era um homem que amava os outros homens. Isso ficou lá dentro da minha cabeça e da minha pessoa e resume bem o que creio que ficou para todos nós daquele tempo.
Meu pai (que já morreu e a quem o Luiz alcunhou de China - acho que por causa dos olhos rasgados, herança índia da Dona Philomena, minha avó) certa feita me mandou cortar os cabelos. Logo eu, Beatlemaníaco junto com a Rosinha, minha vizinha da Rua Antônio Rego, 82. Éramos um fã clube de dois no início da adolescência! Pois é, meu pai mandou cortar o cabelo. Fui ao barbeiro, nas Cinco Bocas e dei uma aparada básica. Voltei feliz da vida me achando um Paul MacCartney! Quando cheguei em casa ele quase me cobriu de porrada! Me mandou de volta e ordenou ao mesmo barbeiro que cortasse meu cabelo à Príncipe Danilo. Sai Paul, entra aquele sebosinho que não lembro o nome e que contracenava com a Janeth MacDonald nos musicais dos anos 20. Humilhado, voltei pela rua me achando um lixo e jurando fugir de casa quando completasse 18 anos. Só saí com 27.
Era esse tipo de coisa que a gente vivia e que nossos filhos e netos vivem hoje também. De outro jeito, mas com a mesma intensidade.
Por falha do administrador, faltava o trecho final do texto, que entra agora, 20/10:

Irreverentes. É. Era o que éramos, mas como forma de expressão do baita conflito. Confundíamos as coisas muitas vezes. Éramos arrogantes em tantas outras. Gente! Nós praticamente acabamos com as procissões. Lembram da enquete que fizemos para decidir se o povo queria aquilo ou não! Isto é de uma arrogância tremenda! Talvez eu tenha sido um dos mais irreverentes de todos!
Não sei bem em qual experiência teatral chegou pelas bandas de São Geraldo um cara que se propôs a ser diretor do espetáculo. Era um cara barbudo, meio esquisito, pelo menos é assim que me lembro dele! Em um dos ensaios eu estava aprontando todas, perturbando a disciplina do momento e ele, provavelmente pelas coisas que eu estava dizendo e/ou fazendo, me chama a atenção: Êh! Se aquieta aí, Leila Diniz!
Na hora fiquei ofendidíssimo, ferido no masculino! Mais tarde lembrando do episódio, percebi que foi um dos maiores elogios que recebi na minha vida! Irreverente, provocador, corajoso, indiscreto, exposto - Adolescente!!!
Querem mais? Fica para um outro capítulo. Afinal, isto não é uma biografia.
Beijo
Carlos


Ou não diz tudo?...
O que deixou (e o que não deixou) saudades da vida daqueles tempos?

domingo, 3 de outubro de 2010

013 > A Orgia de Angra - I

Como se disse, há assunto a dar com pau!
Por exemplo, o antológico encontro de Angra dos Reis na Semana Santa de 1971 [pô, eu não fui!...], já citado em 008 > Angra dos Reis, Páscoa de 1971 (agora com nova redação, ainda à espera de identificação de personagens, vejam lá...).
Nos comentários a esta postagem, Luiz Cesar faz uma peroração (epa!) a favor de um relato detalhado (diria mesmo, insidioso...) dos acontecimentos.
Pois não é que um dos nossos maiores memorialistas, Luiz Antonio Bandeira, diretamente de seu exílio dourado nos altos badalos de Belém, se dispõe a contar tintim por tintim, para nosso deleite, tudo que aconteceu naquele histórico "retiro espirituoso"?!...
Aguardando comentários adiposos (mas focados, por favor...), com vocês, a série


A Orgia de Angra

Capítulo I

Semana Santa de 1971.
Após obtermos autorização do Bispo de Volta Redonda, o militante D. Valdir Calheiros, para ocuparmos a casa do seminário, em paradisíaca praia particular em Angra dos Reis, para realização de "retiro espiritual" (com roteiro de reuniões, leituras, reflexão, orações, celebração de missa e tudo mais, e que foi apresentado ao Bispo), iniciamos o planejamento daquela que foi uma das mais incríveis revoadas da Turma de Olaria, a essa altura já consorciada com a galera do IFCS.
Fez-se um orçamento das despesas coletivas com as 03 refeições que seriam preparadas em cada dia, a partir de um cardápio básico elaborado pelos mais experientes em assuntos de cozinha, cada um ficando líder de uma equipe de auxiliares, que em cada um dos 04 dias, prepararia as refeições (café da manhã requintado, com ovos fritos e lingüiça, etc, almoço e jantar) lavar louças e panelas e arrumar tudo, tendo sido realizado sorteio de escala de cada uma das equipes para cada dia de permanência (êta baita organização!).
Cardápio elaborado, orçamento estimativo concluído e coletada a contribuição de cada um, partiu-se para as compras de super mercado, no fusca de Biba, que também transportaria panelas, louças e demais apetrechos, devidamente pilotado por Biba.
Biba
No dia do deslocamento, todos se dirigiram para a Rodoviária Novo Rio, para seguir viagem de ônibus para Angra, enquanto as motorizadas, abastecido o fusca, dirigiram-se para a Vigor, indústria de laticínios, e não para a CCPL, onde trabalhava o Sr. Charles, pai do Charles filho, que prometera uma doação de iogurtes para o evento.

Chegando à porta da Vigor, devidamente paramentadas com túnicas, correntes no pescoço, anéis, pulseiras, tamanquinhos nos pés, bateu-se à porta da indústria, sem despertar "nenhum" estupor nos funcionários, que atônitos, queriam saber o que aquelas duas bichas pintosíssimas queriam, já irritadas pela demora no atendimento, peitando os guardas com as mãos nas cadeiras, alegando intimidades com o Sr. Charles, que os guardas recusavam-se a acreditar.
Eis que depois de muita discussão aparece na portaria, muito envergonhado, um Sr. Charles, por coincidência também funcionário da Vigor (como o outro da CCPL), quando as duas botaram as mãos na boca e gritaram: NÂO É  ESSE o Sr. CHARLES QUE PROCURAMOS!!!!!
Tarde demais, para o desolado Sr. Charles da Vigor, que se ainda existir deve carregar consigo o trauma do vexame passado, vítima de bulling por parte de toda a fábrica Vigor, pelo resto de sua existência funcional naquele estabelecimento fabril.

Bandeira.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

012 > Achados e sumidos

Não dá pra dizer exatamente até aonde ia (ou não), nem quem esteve (e/ou ainda está) na turma de Olaria...

Destes relembramentos, muitos têm participado ou sabe-se que acompanham. 
E, hoje, é gente de norte a sul (viva a Internet!...): Belém (Bandeira), São Luís (Luiz Cesar), Brasília (Álvaro, Ricardo, Vera), Belo Horizonte (Banzé), Rio de Janeiro (Antonio, Fiore, Gil, Guina, Hermínia, Lídia, Lúcia, Mauricio, Natália, Osvaldo, Paulo 'Anás', Reni, Ronaldo, Vendrami) e São Paulo (Betinha, Carlos), indo até Pres. Prudente (Bonilha).
O moita

Tem também o pessoal que está na lista de e-mails, mas se mantém na moita ou simplesmente não tem tempo ou acha melhor nem lembrar, não se sabe... (Dori, Emílio, Ivani, Perfeito, Vanda).

E os vários que têm sido citados, mas não se tem contato: Augusto, Charles, Cipriano, Derval, Isabel, para ficar nos mais falados.
Sim, cada um sabe de si... Mas, às vezes, não sabe dos outros!
E há os que realmente estão sumidos.
E os que se foram...

Então, ao estilo "rádio do interior", algumas perguntas (e, talvez, respostas) que vão surgindo, antes que se acumulem:
* Bandeira perguntou pela "mãe da saudosa Dri, a sofrida e atormentada Valdir (Maria)" > Reni respondeu;
* Antonio perguntou pelo Charles; 
* Guina perguntou pela Linda > Carlos respondeu;
* Carlos perguntou por Caifás...
* Vendrami perguntou pelo Casé, "não o arquiteto, o da turma" > Guina respondeu; e por Zoé > Vera respondeu;
* Guina perguntou por Isabel;
...

Vejam (e façam) perguntas e respostas nos Comentários.