E como o Casé reapareceu?...
Pelo menos para mim, com a surpreendente mensagem: “mestre Guina, dá os parabéns ao Charles pelo dia que ele correu de Teresópolis até o Fundão“.
Não entendi... Pedi ao Charles que explicasse e ele contou uma quase incrível
HISTÓRIA DA CORRIDA TERESÓPOLIS-OLARIA
Charles Guimarães Filho
Antes da década de 70 > Corrida para mim se dava através da minha paixão por jogar futebol. Mas, sempre gostei de ultrapassar certos limites físicos, como sair de Olaria e ir andando a pé pela Ilha do Governador e voltar.
1970 > Três empregos, filho recém nascido, engordei, sem tempo para nada, duas coisas: corria em volta da mesa onde morava em Ramos e comprei uma bicicleta e ia para o trabalho no Fundão na UFRJ.
1971 > Nasce mais um filho, morando em Icaraí caminho na praia.
1972 > Vou para Maringá no Paraná, começo a correr pelo parque e cidade. Faço musculação e pratico luta marcial.
1973-1982 (demorou cerca de dez anos, o que vem a seguir não sei exatamente os anos e nem a ordem) > Nasce mais um filho, vou morar na Granja Guarani em Teresópolis e coloco a meta de correr até o Rio de Janeiro. Começo a correr em volta do lago Iacy com cerca de 200 metros de perímetro e consigo dar 50 voltas. Resolvo ir até o mecânico correndo pela rua e voltar, o que dava uns 8 quilômetros (naquela época, as pessoas ficaram admiradas, bem como na rua faziam muita gozação como “tá fazendo cu perfeito”, por causa do método Cooper).
Quando chegava do trabalho no Rio de Janeiro ia a favela perto da minha casa e as crianças começavam a gritar “Seu Charles chegou” e as mães “Bota o casaco, menino”, e corríamos até o final da Várzea e voltávamos, o que dava uns 10 km (muitos que encontro lembram com saudade esses eventos). Os que não agüentavam e ficavam pelo caminho aguardavam a nossa volta, muitas vezes alternava-os na minha “garupa” (nessa ocasião, eu já era muito forte, para dar uma idéia eu tinha 45 cm de braço).
Dou volta pela Rio-Bahia contornando a cidade de Teresópolis (1ª entrada), o que dá uns 16 quilômetros, em menos de duas horas. Era comum os meus filhos irem de bicicleta e eu correndo. Qualquer estouro de pneu era bicicleta no ombro, misturado com filho na “garupa”. Cheguei a descer a serra andando e correndo com meus filhos pequenos o que dava uns 16 quilômetros. Fomos também ao Rio de Janeiro de bicicleta (uma só de ida e a outra de ida e volta, o que dava cerca de 160 km.).
Passo a correr com freqüência agora ouvindo rádio (atenção: o rádio era muito, muito grande e a gozação do povo muito mais). Mas, isso era necessário porque depois de fortalecer o cardio-respiratório e as pernas a luta passou a ser contra “o que eu estou fazendo aqui?” e o rádio amenizava por distrair e fazer companhia.
Faço o contorno pela 2ª entrada, o que dá 20 quilômetros. Depois, 3ª entrada: 25 km. Começo a levar dinheiro para beber groselha pelo caminho, algo instintivo que mais tarde descobriram a razão. (acho que em muitas coisas fui pioneiro, inclusive participei da 1ª corrida: Leme-Leblon).
Não tenho ninguém que me acompanhe, então começo a correr assim no Fundão, quando ia dormir na casa dos meus pais: 5-6h sozinho, 6-7h com uma pessoa, 7-8h com outra. Quando dava tempo ia fazendo assim até 10 horas. Esse mesmo esquema fazia para Teresópolis nos fins de semana.
Encontro um bombeiro em Teresópolis que conseguiu me acompanhar. Esse passou a ser durante anos o meu companheiro. Passamos a fazer umas cinco horas de corrida nos fins de semana. Íamos pela Teresópolis-Petrópolis subindo e descendo serra. Teresópolis-Friburgo. Por dentro de fazendas e morros de Teresópolis. Descendo e subindo serra para o Rio.
Um ano antes do feito, corria de madrugada, por saber que iria começar dessa maneira, a fim de fugir o máximo do Sol. Arrumei um funcionário do Fundão que tinha parente em Imbariê (cerca de 30 km da UFRJ) para me aguardar naquela localidade, pois sabia que precisava de alguém para me dar o ritmo, já que depois de 50 km vindo de Teresópolis não saberia bem o que iria acontecer.
No dia, ou melhor, a meia-noite, após comer dois pratões de coalhada, um com mel e outro com melado, fui descendo a serra e bebendo água pelo caminho, quando o dia clareou já estava em Imbariê. Ali eu e o funcionário nos encontramos. A idéia era ir até o Fundão, mas ele ao chegar no Porcão na Avenida Brasil/Penha não agüentou, então continuei e fui até a casa da minha mãe na rua Lígia. Almocei, tomei banho e fui tomar conta de prova no Fundão.
Ao todo foram mais de 80 km em cerca de onze horas de corrida, numa velocidade média de 8 quilômetros por hora.
Obs: quando terminei de fazer esse feito, soube que havia gente no estrangeiro fazendo mais de 100 km. Olhei todo esforço que foi e resolvi não continuar nessa direção. Pensei em manter 20 km por dia e uma maratona no fim de semana. Mas, acabei deixando por 10 km sem maratona nenhuma. Com o passar de tempo passei a caminhar todos os dias cerca de 7 km, em pouco mais de uma hora. Fiz esteira e fiquei entusiasmado por andar nela no máximo de aclive até na velocidade de 10 km. Resultado: ferrei o tendão no joelho, que está melhorando após quase dois anos de tratamento. Hoje faço o “transport” e natação para evitar impacto.
Espero que tenha atendido,
Abraços do amigo, Charles.
Perguntei como o Casé soubera disto...
Gostaria de registrar que em 1969, por problemas políticos, tive que ir trabalhar no interior, quando voltei não mais encontrei o Grupo de Olaria. Ainda tive contatos com alguns: uma vez com Emílio no seu escritório, se não me engano na Ilha do Governador, umas três vezes com Bandeira, inclusive pelo menos uma foi na minha casa, e uns (ou um) foram alunos meus na Engenharia Química na UFRJ. Nesse momento, infelizmente, a minha memória não me ajuda a ser preciso. Casé disse que ele foi, só que não me recordo do seu rosto, às vezes penso ser um dos irmãos cujo nome de um deles parece que era Augusto [Seria o Dori?]. Teve também a Fernanda, que estudava pela UFRJ (?).
Eu comentei: “parecia piada, uma brincadeira qualquer entre você e o Casé”...
Infelizmente, a brincadeira não foi entre nós. Isso nasceu, cresceu, desenvolveu e morreu apenas dentro de mim mesmo. O próprio bombeiro que passou a ser durante anos o meu companheiro de corrida não quis me acompanhar naquela aventura, bem como nunca mais o vi. (...) Não consigo nem me recordar como ele soube que eu fiz esse trajeto. Provavelmente, ele foi meu aluno em 1971 ou 1973 no máximo (quando comecei a pensar no assunto Terê-Rio).
Diz que não tem fotos da época, não se ligava nisto, e termina com mais uma observação:
Obs: eu escrevi para vocês algo que procurei e notei que não tenho mais no meu computador. Pois bem, nessa eu comentava a possibilidade da gente saber o que cada um fez da década de 60 até os dias de hoje. A minha trajetória, se quiserem conhecer, está no meu site www.charlesguimaraesfilho.com.br, tenho inclusive foto minha atual, onde fixa bem o que o tempo fez comigo.
2 comentários:
Super!
Esse nosso blog vai tornar-se uma Enciclopédia Memorial!
GENIAL a contribuição dada pelo nosso amigo Charles.
Amigo Guina, com relação a historia do Charles , percurso - Teresópolis - UFRJ , de cicle ,sensacional , pude enviar e-mail p/ êle , recebí um telefonema dele, batemos longo papo , bom mesmo escutar e falar com o amigo Charles, espero indo ao Rio, visitá-lo, quem sabe combinamos , alguns amigos. Ver Derval em fotos, muito bom , gostaria que outras pessoas postassem seus comentários , já postei os meus em diversas oportunidades.Continuo atento e acompanhando o Blog TO. Abção.Carlos Finfa.
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