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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

028 > Os padres

Paulo Vendrami põe um pouco de seriedade nesta coisa...
Lembra uma referência fundamental, aliás, fundante: os padres.
Diz Vendrami: Vejo que a Turma de Olaria não é apenas uma criação, mas uma instituição. Como tal deveria ter sede, secretária e telefone. Que furor... Acampamento em Floripa, em Guaratiba, em Angra, viagem para Pres. Prudente. Em todos eles, onipresente, está o nosso grande guia, o Band.
Mas a história seria muito diferente se não tivesse havido o apoio dos padres de São Geraldo. E o apoio existiu e aqui estamos nós, com um mar de histórias a rastrear nossa história.
Eu me lembro que em 66 estava recolhido ao convento franciscano na Praça Rui Barbosa, em Curitiba. Estudava Filosofia, Psicologia, Ética, Cosmologia... Que entendia eu disso tudo, com a cabeça fervendo aos 22 anos?
Curitiba foi meu primeiro contato com a cidade grande, roceiro que sou. Muitos encontros de igrejas, por influência do Concílio Vaticano II, com o magnânimo João XXIII. Muita presença do existencialismo, visto que Sartre estava ainda vivo e exercia muita influência no "engajamento" e "aggiornamento" [teologia da libertação] da igreja católica.
O Roberto Carlos começa a cantar suas canções românticas e num sábado à noite ele apareceu num palco na praça Rui Barbosa, com centenas de meninas gritando pelo rei do ie ie ie. Música alta. Eu ouvi do convento... A repressão comia, nas ruas, nos quartéis, no Vale da Ribeira, mas disso eu não sabia... 
Acrescento eu, Guina: Posso dizer relativamente pouco sobre os padres. Minha ligação era com a turma e só “lateralmente” com eles. Na verdade, eles estendiam (eu sabia) um grande guarda-chuva sobre nós. Sem a atitude democrática, praticamente libertária, deles, não teríamos feito quase nada do que estamos contando...
Mas, também, continuavam sendo, para mim, figuras de autoridade, até porque ligadas a uma estrutura de poder pesada, a Igreja Católica. Então não conseguia conviver de igual para igual.  Exceto (para lembrar algo pontual) quando jogava xadrez com o Cipriano nas salinhas abaixo da igreja. Lembro de uma partida que foi até umas três da manhã, ele preocupado com compromissos matinais, jogo em equilíbrio total... que, não lembro, mas acho que ele perdeu pq tinha que ir dormir...
Ah, e de uma situação dramática: o dia em que Cipri falava com alguém lá embaixo, pela beirada do pátio da casa paroquial, e, ao se virar, pisou num miquinho do tamanho de um passarinho que criava, que não resistiu aos ferimentos, deixando todos nós altamente consternados... [Isso aconteceu mesmo? Acho que sim, ficou forte na memória.]
Os demais padres, de certo modo, eram pontos de apoio, especialmente nas viagens. Eu, na prática, deixava a liderança de momento do grupo, digamos assim, negociar com eles...
De qualquer modo, tenho um sentimento de gratidão por todos eles (e seria injusto não ter), pelo que usufruí com a turma, mas também pelo que vi de quanto eles foram úteis à vida de tantas outras pessoas.
 Bandeira escreve sobre o Padre Cipriano:
Já o conhecia anteriormente à formação da Turma de Olaria, pois o mesmo dava assistência espiritual à sogra de meu falecido irmão Jorge Eduardo Bandeira, Dª Jandira, que morava na antiga Rua 9, lá no IAPI, e vivia completamente entrevada numa cama de hospital, apenas mexendo com a cabeça, sendo alimentada na boca e asseada na própria cama, tarefa na qual minha falecida mãezinha passou a ajudar.
Sempre alegre, jovial, esbanjando vida, não foi ele que nos deu assistência quando formamos o grupo de jovens em São Geraldo, tarefa que foi exercida inicialmente pelo Pe. Severiano. Quando Severiano resolveu fundar uma nova paróquia no Largo do Bicão, Cipriano assumiu, com muito gosto, a tarefa de dar-nos acompanhamento.
Iniciaram-se anos de ternura e alegrias, dentro daquela filosofia esposada pelos mesmos (Antônio, Severiano e Cipriano) de não interferirem diretamente na nossa formação e orientação, participando quase que em pé de igualdade das nossas discussões e reflexões, ajudando-nos enormemente a superar aqueles vícios de formação tradicional, especialmente desviando o foco da noção de "PECADO" das infrações individuais cometidas, especialmente àquelas de natureza sexual, quase que invariavelmente associadas aos questionamentos humanos à vontade de Deus.
Lembro-me de que procurei um Padre em São Geraldo para confessar meus pecados e receber a absolvição, a fim de participar da Páscoa Escolar do Colégio Ferreira Viana (1967), onde fazia o ginasial e onde conheci o Mauricio.
Cipriano me atendeu e nos dirigimos para dentro da Igreja; quando eu ia em direção ao confessionário, ele pegou-me pelas mãos e convidou-me para sentar-nos num banco da igreja, frente à frente; meu coração batia aceleradamente!
Ao narrar-lhe meus "pecados" de natureza sexual, o mesmo, assombradamente para mim, declarou que aquelas práticas não eram pecado, pois integravam a natureza que Deus nos deu, e portanto, eram naturais.
PECADO era não amar o próximo, ficar indiferente ao sofrimento alheio, à miséria e à fome que atinge nossos semelhantes.
Saí dali eufórico e deslumbrado, acreditando que aquela era a verdadeira religião e o destino de todos os homens.
Envolvi-me gradativa e completamente com a Política, assumindo metas as quais persigo até hoje!
UFA! Que Depoimento! Lavei o coração.
Beijos a todos, Luiz Antônio Bandeira.
Postagem aberta para lembranças sobre os incríveis padres com que convivemos, ok?