segunda-feira, 22 de novembro de 2010

032 > Ativismo na Igreja de São Geraldo

Com iniciativa de Bandeira, esforço de Natália e contato de Guina, reaparece o Charles!
E ele envia seu depoimento:
MINHA ATIVIDADE EM 1968 E 1969 - GRUPO DE JOVENS DA IGREJA DE SÃO GERALDO
. Contexto Político – Em 15 de março de 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar. A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.
. Atuação no Movimento Estudantil do Rio de Janeiro – Eu era estudante da Universidade Santa Úrsula (USU) neste período e participava dos movimentos estudantis. Havia sido Presidente do Diretório da USU e tinha relações com a Juventude Universitária Católica (JUC). No fim do ano de 1968 me formei nesta universidade.
. Grupo de Jovens da Igreja de São Geraldo em Olaria – Esta Igreja, da responsabilidade de três padres espanhóis - Antônio (dirigente), Cipriano e Severiano (auxiliares) -, formara um grupo de jovens. A minha contribuição naquela ocasião foi a de proporcionar atividades que colaborassem na conscientização e engajamento da comunidade de Olaria na redemocratização do país.
. Algumas das Atividades – Jogral na barca Rio-Niterói. Peças teatrais na rua, segundo a metodologia do Teatro do Oprimido. Filmes “subversivos” passados na própria Igreja. Luta pela reabertura de uma biblioteca de Olaria. Palestras em outras igrejas. Viagem sem dinheiro e pedindo carona com Perfeito Fortuna até Montevidéu no Uruguai.
. Perseguição e Desaparecimento – No final de 1968 houve um mandato de prisão para três do nosso grupo: eu, Perfeito e Emílio. Os dois foram presos juntamente com Caetano Veloso e Gilberto Gil. No momento em que estes dois integrantes do grupo de jovens eram presos, fui avisado de que eu seria o próximo, consegui fugir e fui trabalhar no interior de Minas Gerais.
. Anos Depois – Soube que criaram um curso gratuito, fizeram viagens, os padres abandonaram o sacerdócio e se casaram, meu pai se tornou o chefe deste grupo, minha filha participou. Tive algum contato com: Perfeito, integrante do Asdrúbal e dono do Circo Voador; Emílio, que se tornou médico; José Antônio Bandeira, sociólogo; Fernanda, área/saúde.      
. Quem fui, sou e fiz – Tive três filhos: Demétrius (1970), Ulisses (1971) e Natasha (1974). Era para ter mais três. Desde 1983 convivo com Ana Luiza, tendo me casado com ela na Igreja Messiânica Mundial do Brasil em 1991.
Para maiores detalhes visite meu blog:
http://charles-cgf.blogspot.com
Charles Guimarães Filho

3 comentários:

Guina Araújo Ramos disse...

Excelente depoimento, Charles.
Gostaria de textos específicos sobre alguns dos temas que vc cita, as Atividades com o grup.
Em especial, não sabia da sua viagem com o Perfeito ao Uruguai. Deve ter sido uma grande experiência, pelas que fiz, com ele e com outros.
Abs, Guina

carrivo disse...

Reforço as observações do Guina. Charles, guardo ternas recordações de vc. Duas me ficaram marcadas: o seu primeiro casamento em São Geraldo e uma conversa que tivemos com vc em um apartamento (não lembro de quem) sobre coisas da vida. Me foi muito útil.

Osvaldo disse...

Charles:

Que bom ter notícias suas! Na época considerava a sua liderança no Grupo de Olaria extremamente positiva e saudável. Vc era alguém mais velho que eu admirava pela retidão de propostas. Nós somos de uma época em que havia ideologia (após Cazuza não mais: "Ideologia!? Eu qero uma pra viver"). Participamos juntos na luta pela abertura de uma Biblioteca Pública em Olaria inclusive com passeata e manifestação de rua na Leopoldina Rêgo. Admirava sua coragem naqueles negros anos de ditadura. Era necessário lutar e as opções eram tão poucas... Com seu desaparecimento fiquei preocupado por anos pensando no pior. Naqueles tempos era comum pessoas sumirem e ninguém sabia ao certo o que ocorrera. Graças a Deus vc sobreviveu! (Graças a Deus nós sobrevivemos!)

Abraços