Ainda há aventuras da época da turma de Olaria a editar (e
fica-se devendo, queiram perdoar) e muitas que merecem ser contadas. Pois, está
mais do que na hora de contar esta...
Entre as especialidades mais estimadas no grupo estavam as viagens de carona. Motivos para viajar sempre existiam... Uma das principais, a vontade de rever (novos) amigos, em especial padres que passavam por Olaria. A conexão com os franciscanos, com tinturas políticas e também afetivas, levaram alguns de nós a constantes visitas ao convento de Petrópolis. Além disso, a igreja de São Geraldo era centro de recepção de padres estrangeiros, a caminho de paróquias no interior, a maioria espanhóis, o que já fora motivo de marcantes viagens. São exemplos, Foz de Iguaçu (via Presidente Prudente, onde estava o Pe. Carmelo) e Goiandira-GO, para a pesquisa proposta pelo Pe. Joãozinho, histórias já relatadas.
Viajar vicia... Daí, inventávamos outras. Foi assim que um inusitado trio se formou, com a inexplicável intenção de passar o Carnaval de 1970 em Salvador, BA, embora a viagem em si fosse motivo bastante. Na ordem de experiência neste tipo de aventura, à época, Derval, Guina (que conta a história) e Zuíno, três magrelos na estrada, três D. Quixotes querendo encarar o mundo...
Viajar vicia... Daí, inventávamos outras. Foi assim que um inusitado trio se formou, com a inexplicável intenção de passar o Carnaval de 1970 em Salvador, BA, embora a viagem em si fosse motivo bastante. Na ordem de experiência neste tipo de aventura, à época, Derval, Guina (que conta a história) e Zuíno, três magrelos na estrada, três D. Quixotes querendo encarar o mundo...
Zuíno pensativo |
Derval na festa |
[De imediato, chamo os parceiros a colaborar. O Der pode mandar lembranças por e-mail
e Zu, com sua memorável memória, recuperar detalhes (vou lhe mandar cópia impressa).]
Naturalmente, a primeira parada foi o convento dos franciscanos em Petrópolis. Não para pedir apoio espiritual, apenas porque estava no caminho... Para mim, resultou em grande ganho: descolei uma sandália franciscana original!... Que merece ser descrita: estrutura em couro, com solado de pneu; “porta-calcanhar” muito rígido, apenas duas tiras largas sobre peito do pé; na lateral, um cotoco de ferro (5mm de altura, 3 de diâmetro), para encaixar um dos 3 buracos da tira. Par de sandálias muito resistente e também duras, causa de honrosos calos por muito tempo...
Eu com a sandália no pé, seguimos pela antiga Rio-Bahia e logo
estávamos em Minas Gerais. A lembrança mais forte da Zona da Mata é de uma
estranhíssima, quase inacreditável carona (muita vontade de chegar...) numa
carroceria (uma espécie de engradado de madeira, fechado até no alto) de um
caminhão de buscar gado. O trocadilho procede... Com excessão de um travessão
de madeira, que atravessava a carroceria, todo o resto do espaço era um mar de
bosta!... Viajamos uma tarde inteira agarrados às laterais da carroceria, mantendo
as bundas firmes no sarrafo!
Minas Gerais seria associada a esta mal cheirosa lembrança, não
fosse o encontro com o Sapão, motorista que reconheci no posto de gasolina em
que nos deixaram. Amigo de meus irmãos, também motoristas, Sapão imediatamente
embarcou na nossa! E nós embarcamos na cabine da sua carreta Scania, para uma
virada de noite na estrada. Tão volumoso como o apelido sugere, Sapão deixava
pouco espaço para nossos corpos, e éramos magros... Em compensação, encheu nossas
cabeças das mais incríveis histórias das estradas, pena que não lembro mais nada...
Milagres e o morro da Bandeirinha - foto Rony Cerqueira |
Milagres, vista da estrada - foto Fernandes Sales |
No sábado de Carnaval, à tarde, estávamos em Salvador. Fomos parar na Liberdade, o grande bairro popular, na casa de alguém que alguém conhecia... E no sobe e desce das ladeiras (eu, me sentindo personagem de Jorge Amado...), adentramos, no domingo, ao Carnaval da Cidade Alta. O que lembro é massa... Muita gente, um aperto total, muita cotovelada e empurrões, diziam ser a mais pura dança dos blocos de rua... Ainda não havia blocos de mortalha ou não chegamos perto de nenhum. Acho que passamos uma noite zanzando entre a praça Castro Alves (que, realmente, era do povo!...) e os bairros de praia, Pituba ou Rio Vermelho. Não dá para lembrar os roteiros, mas é difícil esquecer a emoção, e são 42 anos!... A praia de Itapuã, a caminhada entre coqueiros e nas pedras, e o farol, longe... A ida à lagoa do Abaeté, onde reinventamos o “bife à milanesa”: acho que fui eu quem, meio por medo de mergulhar nas águas escuras, achei divertido rolar pela areia, duna abaixo até a beiradinha da água, rimos bobamente... Em suma, andávamos por todos aqueles lugares incríveis de Salvador e à noite voltávamos à Liberdade, e isto não é mais uma descrição, é uma alegoria!
Lagoa do Abaeté, década de 1970 |
Para voltar, quanto mais rápido melhor... Só lembro que uma carona nos deixou tresnoitados na entrada de Teófilo Otoni, já em Minas, de manhã cedo, depois de mais uma longa conversa que ajudava o motorista a ficar acordado. Tínhamos levado uma carga de dezenas de canetas, com corpo de bambu envernizado, apoio do Perfeito, para fazer caixa, vendendo no varejo. Carregamos aquele pacote o tempo todo... Aí, tivemos uma ótima idéia: fomos à rodoviária, vendemos as canetas no atacado para uma lojinha, para pegar um ônibus até o mais longe possível e dormir a viagem toda. Nos últimos lugares de um que saiu às 6h da matina, quase pegando no sono, descobrimos que a grande maioria dos passageiros era de um grupo evangélico: passaram a viagem toda cantando hinos religiosos...
5 comentários:
Guina, achei muito divertido teu relato da viagem dos três magros à Bahia. Caminhão cheio de bosta... Só tem uma dúvida, quantos dias vocês ficaram na capital soteropolitana, e onde dormiram e onde comeram (no sentido primeiro). Sei que venderam as tais canetas, mas elas davam para o rango e para o dormir? Em Petrópolis você até arranjou uma legítima sandália franciscana... e na Bahia? Ab.
Polinho,
a gente era muito maluco naquela época, né?
Olha, sinceramente, o que conto é exatamente o que consigo lembrar!
Juro, que não lembro onde dormimos e acho que ficamos lá até a 4a-feira de cinzas.
Fiz muitas viagens pedindo comida e dormida, sem grana praticamente nenhuma, mas nesse caso acho que tínhamos algum dinheiro para comida e arrumamos lugar para dormir. Na volta, grana curta, apelamos para a venda das canetas, mas a grana só dava para as passagens de ônibus, e não até ao Rio, só até Governador Valadares ou Muriaé, não lembro. As caronas que viraram a noite eram nossas preferidas, resolvia o problema de dormir...
Na Bahia a gente só olhava aquela farra, e era arrastado pela multidão...
Tomara que Derval e Zuíno relembrem mais detalhes.
Guina, bota dureza nisso. Difícil imaginar que debaixo desses cabelos brancos sessentões mora alguém que se meteu em aaventuras tão malucas, tão doidas que você até esqueceu os detalhes. Preferir caronas que virassem a noite... Afe. Experimenta contar isto para os teus sobrinhos-netos que tenham 18 ou 19 anos... Ab.
[este é o primeiro comentário do Vendrami, caso esteja fora de ordem]
Guina, achei muito divertido teu relato da viagem dos três magros à Bahia. Caminhão cheio de bosta... Só tem uma dúvida, quantos dias vocês ficaram na capital soteropolitana, e onde dormiram e onde comeram (no sentido primeiro). Sei que venderam as tais canetas, mas elas davam para o rango e para o dormir? Em Petrópolis você até arranjou uma legítima sandália franciscana... e na Bahia? Ab.
Eu estaba procurando alguna information y talves voce a tenha no ano 1971 72 eu cheguey na lagoa de abaete ( soy Uruguayo) y colocamos una bandera na entrada do acampamento eramos todos hippies y veio un journal y tiro fotos y las publicó.
Voce tein idea donde poso procurar (lembransas antiguas)
Si no, muito obrigado.
Um abraso
Sent from my Verizon Wireless 4G LTE Smartphone.
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