sábado, 18 de dezembro de 2010

041 > As prisões da repressão

Sensíveis ao tema e para que tenhamos mais espaço de reflexão, tomo a liberdade (repetindo a ironia...) de abrir postagem com este emocionante texto da Lúcia sobre a prisão de Vendrami.
E para os consequentes comentários...
Oi, pessoal... salve Banzé!!
Navio pra cá, 'tanque de guerra' pra lá e as notícias naquela época eram cada vez mais assustadoras sobre o sumiço dos nossos amigos. E que viagem fizemos - você, Ronaldo e eu? Resolvemos que não podíamos ficar de braços cruzados sem notícias do "minha pobreza talé", (rsrs) e, em pleno poder dos nossos cinco sentidos, pegamos o 484 e fomos parar nada mais nada menos que no Ministério do Exército na Central do Brasil, pois diziam que era lá que ele estava. Mas tb o nosso Vendrami?
Banzé, estou nos vendo atravessando a Presidente Vargas, passos nervosos, mas decididos em direção aos elevadores.
Nisso, demos com um elevador se abrindo, um monte de farda verde saindo, patentes entrando; fechada a porta do elevador, nós ali junto deles num tremendo curto-circuito, mano!
Como se fosse a coisa mais natural pro momento, olhávamos pra eles, mas acho que o que mirávamos mesmo eram seus coturnos bem engraxados. Pra que correr o risco?!
Afinal, tava tudo bem,  era apenas um passeiozinho básico pelos corredores do andar de informações e naquela de não temos tempo a perder, saímos perguntando pelo nosso 'catarina'.
Não fomos mal recebidos não, só amarelamos quando o oficial de dia anotou a ocorrência , se levantou pra nos acompanhar até a porta sem esclarecer nada e aí... engolimos em seco, lembra Banzé?, saímos de lá com medo de ter piorado as coisas pro lado do Vendrami.
Mas acho que você, Banzé, botou tanta fé na idéia, que não demorou muito nos aliviou com um 'soltaram o Vendrami'!!!
Acho que depois disso fomos passar um fim de semana numa casa alugada em Cabo Frio. Ficamos na praia contando as estrelas-cadentes pra todo lado; pra ser sincera, o céu mais bonito que já vi na minha vida!!
Naquela noite dormimos todos juntos, a casa totalmente aberta. Mas nem tudo era calmaria. Bem de madrugada, o Vendrami deu um grito e jogou o próprio corpo por cima do muro da varandinha, baixinho.
Acordamos todos, ele não se machucou; tomou água com açúcar e  pra nos compensar do susto, nos impediu de conciliar o sono com uma boa e animada conversa. Rimos muito!!
Pena que naquela época não havia o "Sorria, você está sendo filmado"; daria uma bela foto, hein, Guina?
Bjs, Lúcia e Ronaldo
Amamos vocês!!

5 comentários:

Bandeira disse...

Não sabia do episódio da ida de você e o Pilha ao Palácio Duque de Caxias, atrás do "Polinho" Vendrami: que coragem!
Eu, após a prisão do mesmo, me mandei para uma longa temporada em Florianópolis/SC, pois temia o mesmo destino.
Meus queridos pais, que acolheram e consideravam o Vendrami como filho, após o mesmo ter sido transferido para o Forte Copacabana, iam visitá-lo sistemáticamente, para transmitir-lhe conforto.
Tudo isso vai dar um belo livro!
Muitos beijos,
Luiz Antônio.

Banzé disse...

Lúcia, grande menina!!
Caraca, mulher! Tua descrição foi incrível e comovente.
Só um detalhe, tens certeza que fui eu?
Não lembro de nem um pingo do que descreveste. Caramba!!!!!!
Grande amiga será que fui eu mesmo? Converse com o Ronaldão, depois que vocês acharem quem foi me digam.
Socorro, eu não consigo lembrar disso!!!!
Um forte abraço em todos.
Banzé

Anônimo disse...

Ronaldo, Lúcia e Banzé, só há uns poucos dias que soube que vocês me tinham ido procurar no Palácio Duque de Caxias. Isto deve ter sido em fevereiro de 72. Agradeço comovido. Como posso ter sabido deste gesto só 38 anos depois? Lembro bem que vocês foram na minha casa do Bandeira no começo de março quando fui solto. Espero poder vê-los no dia 26 para dar-lhes um grande abraço por este gesto de muita coragem e de muitas amizada. Paulo Minha Pobreza Tal é.

Paulo Vendrami disse...

Ronaldo, Lúcia e Banzé, fico comovido ao saber agora, 38 anos depois, que vocês foram à minha procura no Palácio Duque de Caxias. Isto deve ter sido em fevereiro de 72, quando eu estava no Forte de Copacabana. E este gesto de amiga solidariedade e coragem ficou oculto durante tanto tempo! Ou será que foi dito e a minha fraca memória não regisgtra? Lembro, sim, que uando fui solto, já em março, vocês foram na minha casa do Bandeira, onde eu exibi um certo ar de heroismo por ter estado nas mãos dos meganha... E todos nós, preocupados, olhando ao redor para ver se eles apareciam. Quero vê-los no dia 26. Isto merece um comovido abraço de agradecimento. (PS. Aquele episódio em Cabo Frio faz parte de um sonho, não é?). Paulo Minha Pobreza Talll É.

Guina Araújo Ramos disse...

Eu passei ao largo da prisão do Vendrami, fazendo aquela política de não chamar atenção, até pq tb estudava no IFCS. Tratei de passar uns dias na casa de uma tia no interior do estado...
Mas, nas férias seguintes, de 72 para 73, o bicho pegou! Entre os que eu conhecia, uns 15 foram presos...
Eu mesmo, que não era de um partido, mas apenas colaborador, quase entrei: tinha encontro marcado, mas a colega, que "caiu" na véspera, não me citou.
Foi aí que abandonei o IFCS e, em março, parti (com Soninha e Getúlio) em direção ao Chile.
Mas, isto é outra história...