sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

079 > Um peruano em Olaria

O Bonilha, que viveu aventuras pelo mundo, aparece com mais uma das suas preciosidades...
Recuperou (e entrevistou) uma figura de que nenhum de nós se lembrará, mas que esteve em Olaria quando a turma se dispersava e lembra um pouquinho de nós e das nossas circunstâncias.
Trata-se do hoje Prof. José Leonardo Vega Arana, um peruano que vive em Luxemburgo e é dono da firma Wordbee, de serviços de tradução. 
Diz o Bonilha:

Convivemos quando eu era um simples e pobre imigrante clandestino em França. Ele tampouco era rico. Depois cursou universidade e formou-se em informática na França. 
Com a palavra um emigrante latinoamericano:
– Em 1974 deixei o Peru para conhecer o Brasil. Havia conhecido o Bonilha em La Paz. Com o endereço dele, busquei-o no Estado de São Paulo mas o bicho havia deixado seu país. Outro endereço que me dera fora o da turma de Olaria; assim, fui à Igreja de São Geraldo, onde conheci pessoas maravilhosas!
Por exemplo: duas bonitas jovens que, creio, lecionavam no curso de alfabetização ministrado nas salas que, para esse fim, eram usadas e se situavam debaixo da igreja! Acho que se chamavam Maria ou, ao menos, uma tinha este nome... Com elas tomei algumas vezes sucos em estabelecimento comercial do bairro.
Fiquei uns 10 dias dormindo num banco do templo à noite e, de dia, ajudava, creio, nas atividades da paróquia, como a limpeza. Nos dias finais de minha estada o padre me parecia já não estar satisfeito de eu pernoitar na igreja... Fora a ele que eu me apresentara no 1.° dia. Ele falava português mas era espanhol... recebeu-me bem...

Para economizar, eu comia pastéis e comida barata. Às vezes me sentia fraco de fome. Nunca comprei água, no entanto: pedia nos bares e restaurantes e não passei sede... Caminhava com 1 mochila às costas. Passeei muito no Rio. Banhei-me em Copacabana, andei de bonde, subi os degraus da igrejinha da Penha, vi o Estádio do Maracanã, adentrei uma favela, bebi cerveja com moradores, dialoguei com eles em "portunhol"... verdade que eu portava um dicionário, com traduções do espanhol ao português e deste ao espanhol... Não assisti a uma missa sequer na Matriz de São Geraldo. Tampouco tomei ônibus em Olaria: gostava do trem! Descia na Estação D. Pedro e, se preciso, pegava ônibus. Não namorei ninguém... nem fiquei doente, pois o pessoal da cidade era muito simpático.

Continuou meu entrevistado:
- Olaria me pareceu um bairro popular, mui simpático, onde se podia tomar um cafezinho pequenininho, gostoso, fortíssimo, na rua mesmo... Havia no entanto poluição sonora. Quanto ao povo, vestia-se de modo popular e vivia como as pessoas do centro de Lima (capital do meu país): muita gente em cada residência... Não havia Internet nem telefone celular, então o meio de comunicação que usei para contar a meus pais o que eu vivenciava no Rio foi uma carta.

Ao final expressou:
- Saudações a todos os que me conheceram em Olaria!




E Bonilha manda uma foto desta época de aventuras...


O peruano que visitou Olaria é o 1.º da esquerda. Está do meu lado (estou de óculos). 
O outro, à direita de mim na foto, é o Sargento Carlos do exército português (a certa altura da vida fora dado como desertor, o que ele negava justificando que fora "armação" da direita). O mais palhaço na foto é Paulo Yutaka, que se tornou diretor de teatro em São Paulo quando voltou ao Brasil.

A foto foi tirada quando pedíamos "carona" entre Lisboa e Árgea (localidade onde surgira uma comunidade de esquerda, no meio rural). Eu quis pertencer à comunidade mas não fui aceito. Estávamos em plena Revolução dos Cravos Vermelhos (1975).

Bonilha 

Alguém lembra dele?...

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