O Primeiro Acampamento
No fatídico ano de 1966, quando o Rio de Janeiro se viu assolado por violentas chuvas que provocaram graves acidentes como a queda de encostas, desabamento de prédios residenciais em áreas urbanizadas (Stª Teresa, Cosme Velho, etc...), deixando um rastro de centenas de mortos e milhares de desabrigados, um pequeno grupo de rapazes adolescentes, criados desde a 1ª infância naquela estrita faixa de terra espremida entre o fundo da Baía de Guanabara e o maciço montanhoso hoje chamado de "Complexo do Alemão", atravessada por dois corredores demarcatórios, a velha linha ferroviária da Leopoldina, que se estendia até a então capital da Baixada Fluminense, Caxias, percorrida por seus comboios ainda do século XIX, e a moderníssima Avenida Brasil, com suas largas pistas concretadas (que atravessávamos em alegres bandos para nos banharmos na Praia de Ramos, nossa principal diversão nos verões suburbanos cariocas), esses adolescentes, em nº aproximado de oito, que haviam iniciado uma aproximação com os padres da Igreja de São Geraldo, às proximidades da Estação de Olaria, e que através da grande habilidade do jovem Pe. Severiano, missionário secular, recém chegado da Espanha, mergulhado no "aggiornamento" pós Concílio Vaticano II (Viva João XXIII!), constituíram o primeiro núcleo do que viria a chamar-se a "Turma de Olaria".
Por sugestão do Pe. Severiano, organizou-se o 1º acampamento, na Praia da Barra de Guaratiba, num terreno ao lado de uma pequena capela, no alto de um morro ainda totalmente arborizado (um resquício da Mata Atlântica), com vista frontal e total da fabulosa Restinga da Marambaia, já àquela época ocupada pelos militares e de acesso vedado aos civis.
Os preparativos para o tal acampamento mobilizaram toda a paróquia, até mesmo com a cessão de barracas de lona do grupamento de escoteiros da matriz, naturalmente que estes, os escoteiros, vedados de participarem do evento, dado o repúdio que já professávamos por essas organizações tradicionais.
Obtidas as autorizações familiares, feita a "vaquinha" financeira para a compra de gêneros e mantimentos, realizada uma visita prévia ao local, cedido através do ex-pároco de São Geraldo, Pe. Zé Maria, naquele momento vigário em Guaratiba, o grupo de jovens, liderado pelo Pe. Severiano, tomou o rumo, de trem e ônibus, via Campo Grande, para Guaratiba, apesar da chuva que começara a cair naquele início de semana de janeiro de 1966.
Com dificuldades, carregando mochilas, barracas de lona, sacos de panelas e mantimentos, escorregando na lama que escorria enxurrada abaixo, pelo morro, chegamos à área escolhida, demarcamos os espaços para a armação das barracas, cavamos trincheiras para o escoamento da água, armamos as barracas naquele fim de tarde. Improvisamos um fogão no coreto ao lado da capela, onde preparamos nossa primeira refeição, já noite: café com leite, sanduíche de pão com ovo frito - delícia reconfortante à umidade já reinante.
Ansiosos pela novidade, 1ª noite nas barracas do acampamento, logo nos recolhemos às mesmas. Breve fantasia. A tempestade agravou-se e nossos leitos ficaram encharcados. Operação retirada e abrigar-se no coreto onde passamos uma noite no chão duro, com frio, pois lençóis e cobertas ficaram molhados.
No dia seguinte, a chuva não deu trégua. Constatamos que havia muitas goteiras no coreto; conseguimos abrir a porta da capela, onde nos instalamos com armas e bagagens, cada um ocupando um banco de missa, que passou a ser a nossa confortável cama pelo resto daquela venturosa semana.
Assim se passaram a 3ª e a 4ª feira, chovendo ininterruptamente. Nossas diversões restringiam-se a preparar a alimentação (03 refeições-dia), alguns jogos, brincadeira de adivinhar nomes de filmes, encarnações mútuas, confidências em grupo ou em pares, algumas celebrações da palavra e liturgia, conduzidas pelo Pe. Severiano.
Na 5ª feira, finalmente, as nuvens começaram a se dispersar, o sol começou a aparecer timidamente, e nós pudemos descer do morro e acessar a praia, com as águas barrentas e cheias de detritos, mas que serviu de cenário para nos esbaldarmos até 6ª feira, quando após o almoço (muito macarrão e arroz com salsichas, cardápio invariável), iniciamos nosso retorno.
Na 5ª feira, finalmente, as nuvens começaram a se dispersar, o sol começou a aparecer timidamente, e nós pudemos descer do morro e acessar a praia, com as águas barrentas e cheias de detritos, mas que serviu de cenário para nos esbaldarmos até 6ª feira, quando após o almoço (muito macarrão e arroz com salsichas, cardápio invariável), iniciamos nosso retorno.
O grupo mais numeroso, que residia na Rua 13 do IAPI da Penha, ao assomar à Rua e seus blocos de apartamentos, foi saudado com aflição pelos vizinhos, aliviados por nos verem saudáveis e bronzeados, preocupadas que estavam as famílias por conta da ausência de notícias, agravada pelas catástrofes que haviam atingido a cidade.
Aos irmãozinhos Augusto, Dourival, Emílio, Ricardo, Luluca, Perfeito, Severiano e outros porventura não citados, meu eterno afeto.
Luiz Antônio Bandeira.
3 comentários:
OI, pessoal Esclarecendo. Josemar é meu tio. Gerúndio e Florinda foram frequentadores de São Geraldo e que participaram da encenação de "Plft, O Fantasminha", na qual minha irmã era a Menina Maribel. Antes desse espetáculo somente a Paixão de Cristo era encenada. Carlos Develard era um colega de Colégio Militar do meu irmão (morava na Silva e Souza)
Ah, bom!
Só faltou o nome da sua irmã...
Não lembro dela, nem sei se a conheci (apareci por lá em 68, acho).
O nome dela é Lúcia e mora em Santos com a minha mãe.
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