segunda-feira, 18 de outubro de 2010

022 > Goiandira - A viagem de ida

Temos um novo narrador!
Muito camarada, Osvaldo se dispôs a lembrar este grande momento da turma de Olaria, os acontecimentos em torno da pesquisa que fizemos na minúscula cidade de Goiandira, a pedido do pequeno gigante Pe. Joãozinho.

Meus amigos:

Sim, estive na pesquisa do Padre João (julho 1970), em Goiandira, GO.
Ao que me lembre, saímos do Rio em um grupo que incluía eu, Guina, Perfeito, Adriana e outros, claro que de mochila e pegando carona na estrada.
Inicialmente fomos até Juiz de Fora, onde pernoitamos na casa de um parente do Guina, que tinha avisado que iria com mais alguém, mas ele não esperava a invasão daquela galera para dormir na sua casa!!
Era uma viagem sem pressa e atraídos pelo já famoso Festival de Inverno demos uma parada em Ouro Preto. Lá conseguimos entrar no Teatro e assistir gratuitamente uma bela peça de teatro sobre a Independência. A cidade estava lotada e sem ter para onde ir convencemos a administração a nos deixar dormir no próprio sótão do Teatro.
Nunca passei tanto frio na minha vida! Sem roupas adequadas, acostumados ao calor do Rio de Janeiro tivemos de suportar uma baixa temperatura em um local inteiramente vazado ao vento gélido das montanhas de Minas. Arranjamos jornais e colocamos entre as vestes para apaziguar a situação. De madrugada olhei minhas mãos e pés azuis e me assustei. Felizmente fez sol no dia seguinte e pude me aquecer.
O curioso é que ao invés de me traumatizar passei desde então a gostar de Minas Gerais e a gostar do frio. Creio que deve ser o calor da amizade que descobri nessa viagem.
Osvaldo

E, após o intervalo, envia mais um trecho do caminho de ida [17/11/10].
Saindo de Ouro Preto fomos adiante, porém demoramos e custamos a ganhar carona na estrada. Anoiteceu e resolvemos dar uma parada em Pará de Minas praticamente sem conhecer nada. Levamos um susto ao ver uma réplica do Cristo Redentor no alto de um morro da cidade! Mas onde dormir? 
Perfeito sugeriu entrarmos em contato com a paróquia da cidade e contarmos nossa ida humanitária a Goiandira. Perfeito era um artista, realmente!! Tanta lorota contou que o padre nos considerou em plena peregrinação religiosa. Apiedou-se e aproveitando sua influência na cidade nos colocou em um pequeno hotel. Que bom!! Eu estava esgotado e após dois dias enfim pude tomar uma sopa e deitar em uma cama! A vida é bela!! Em meio a ditadura havia mais crença na palavra alheia do que hoje. Quem pode hoje andar pelas estradas do Brasil pedindo carona e um apoio as Igrejas das cidades? A juventude nos dava uma liberdade que contrariava os limites em que vivíamos.

 A viagem de ida já está além da metade do caminho, mas acho que o grupo se dividiu... Quantos éramos? E quem estava nesta mordomia do hotel?... Não lembro.
No próximo bloco, a chegada a Goiandira?...

2 comentários:

Guina Araújo Ramos disse...

Foi uma ótima escolha do Osvaldo, fazer todo o trajeto outra vez!
Com isto, lembrei muitas coisas...
Meu parente em Juiz de Fora era um primo da minha mãe, Antonio Carlos, dono de um posto de gasolina, morador de um prédio classe média. Quando chegamos, meio tarde da noite, sua mulher Emília quase teve um troço! Abriu a porta e viu um bando muito estranho. Tive que tirar gorro, cachecol, luvas até ser reconhecido. Até hoje, qdo me encontra, faz uma farra, contando e rindo.
Esta questão do frio, pegou mesmo! Pouco antes, eu tinha "descolado" com os franciscanos de Petrópolis uma sandália típica deles, com sola de borracha e couro grosso, fechada por uma tira cujo furo encaixava num pino de metal. Não levei sapatos, tênis, nada... Em Ouro Preto, aquele frio, calcei meias grossas. Mas me dei mal: choveu. Tive que aguentar o frio com pés mal cobertos e molhados!
Na peça que assistimos, estava em cena Glauce Rocha, a grande atriz da época.
E a ideia de pedir para dormir no teatro foi genial! Lembro que já estava na porta, encarando o frio, qdo me chamaram de volta. Dormi no balcão, no 3o andar, vendo de cima o belo teatro até apagarem as luzes...

Osvaldo disse...

Saindo de Ouro Preto fomos adiante porém demoramos e custamos a ganhar carona na estrada. Anoiteceu e resolvemos dar uma parada em Pará de Minas pràticamente sem conhecer nada. Levamos um susto ao ver uma réplica do Cristo Redentor no alto de um morro da cidade! Mas onde dormir? Perfeito sugeriu entrarmos em contato com a paróquia da cidade e contarmos nossa ida humanitária a Goiandira. Perfeito era um artista realmente!! Tanta lorota contou que o padre nos considerou em plena peregrinação religiosa. Apiedou-se e aproveitando sua influência na cidade nos colocou em um pequeno hotel. Que bom!! Eu estava esgotado e após dois dias enfim pude tomar uma sopa e deitar em uma cama! A vida é bela!! Em meio a ditadura havia mais crença na palavra alheia do que hoje. Quem pode hoje andar pelas estradas do Brasil pedindo carona e um apoio as Igrejas das cidades? A juventude nos dava uma liberdade que contrariava os limites em que vivíamos.

Osvaldo