No dia 07 de maio de 2011, a Corte Celestial Olariense (CCO), numericamente já expressiva, recebeu o seu mais novo componente: o nosso Padre eterno Cipriano Andérez Vélez, grande irmão, orientador, questionador, visionário, múltiplo instrumentista, mas sobretudo semeador do amor, da verdade e da beleza, para com todos que tiveram o privilégio de com ele conviver.
Desde os meus tenros anos de adolescente que o conheci, primeiramente celebrando o casamento religioso de uma das minhas irmãs. Depois, atendendo-me em confissão, por mim solicitada, preparatória à Páscoa escolar do Colégio Ferreira Viana, onde cursava a 2ª série ginasial, com cerca de 14 anos de idade e da qual resolvera participar.
Para meu espanto, não dirigiu-se ao tradicional confessionário e, em mangas de camisa, convidou-me a sentar em um banco da grande nave branquinha da Igreja de São Geraldo; face a face; sorriso nos lábios.
Começou a demolir um a um os velhos conceitos de pecado que haviam sido introduzidos em nossas cabecinhas, por aquela ladainha esclerosada de que pecar contra a carne era a suprema desobediência à vontade divina. Pela primeira vez fui introduzido à lógica do Amor Divino, à perfeição de seu plano original, e o egoísmo como o supremo mal, que acorrentou o homem ao longo da história e gerou todas as distorções que se institucionalizaram.
Paralelamente a esse discurso revolucionário, conheci outra de suas práticas oriundas de sua vocação sacerdotal, a dar assistência à Dª Jandira, sogra de meu irmão Jorge Eduardo, que há muitos anos jazia em um leito doméstico, com movimentos só de cabeça mas com raciocínio perfeito. Nessa época, como minha mãe, sensibilizada pelas condições de vida da sogra de seu filho, passou a visitá-la e ajudar nos cuidados higiênicos que a mesma necessitava, apesar de mamãe ser evangélica (membro da 1ª Igreja Batista de Olaria, na Rua Angélica Mota), conheceu Cipriano e tornaram-se bons amigos.
Num primeiro momento, quando se constituiu o Grupo de Jovens de São Geraldo, núcleo original da hoje Turma de Olaria, dos três jovens padres espanhóis, que integravam a equipe que assumiu a condução da paróquia, foi o já também falecido Padre Severiano, que ficou com a tarefa de orientar-nos.
Mas meu deslumbramento com aquele novo universo de idéias e práticas foi tal, que aceitei um convite de Cipriano para assumir uma turma de catequese infantil, dentro de uma proposta pedagógica nova e revolucionária, que implicava a que, após a 1ª Comunhão, a criança permanecesse por mais 03 anos, voluntariamente, freqüentando um Programa de Pós-Catecismo, voltado para sua formação integral. Funcionava aos sábados, pela manhã (das 09:00 às 11:00h), tendo eu assumido uma turma de 1º ano pós comunhão, composta por cerca de 15 meninos na faixa dos 07 aos 09 anos.
Nas sextas-feiras à noite, por volta de 20:00h, quando deixava as aulas do Colégio Ferreira Viana, pegava o trem da Leopoldina, descia na Estação de Olaria, e ia à reunião da equipe de catequese, na salinha de reunião do fundo da secretaria da matriz (onde também funcionava o famoso mimeógrafo revolucionário Gestetner, também apelidado de "Trotikinho", pois se acionasse seu botão, logo começava a cuspir panfletos políticos, Ká Ká Ká Ká!!!). Essas reuniões, conduzidas com didática e brilhantismo pelo Cipriano, estendiam-se até 23:00h ou mais, nas quais manuseava-se o excelente material didático publicado pela Editora Vozes, sempre fazendo a vinculação entre as passagens bíblicas e a realidade do dia-a-dia das pessoas. Aprofundei muito o pensamento teológico, superando as incontáveis versões mágicas e alienantes da realidade.
Depois que o Severiano resolveu deixar a paróquia de São Geraldo, para criar uma nova comunidade na Vila da Penha, no antigo Largo do Bicão (que o Severiano só conseguia falar "Vicòn") e que dentro de sua postura revolucionária propôs chamar-se de Jesus Ressuscitado (pois, segundo o mesmo, eliminaria a figura da imagem do "Padroeiro"; no altar, haveria apenas uma caverna vazia com uma porta de pedra removida – Ele havia Ressuscitado!), Cipriano foi designado para assumir o Grupo de Jovens, em suas reuniões semanais para tratar de atualidades, e suas inaugurais iniciativas de mobilização popular, através de Encontros da Juventude, montagens teatrais, etc, etc...
Dando desdobramento ao trabalho iniciado por Severiano, logo conquistou com garra a simpatia e o afeto de todos, não medindo esforços para nos impulsionar na luta pelos ideais que aprendíamos a defender. Acompanhava-nos nos encontros e happenings internos que organizávamos, em aprazíveis sítios como em ...., deslumbrante fazenda-seminário próxima de Volta Redonda, pertencente àquela diocese.
Nunca impôs seu ponto de vista nem permitiu que qualquer facção conduzisse o processo, mesmo que certos questionamentos levantados pudessem levar a uma renúncia a fé.
Após renunciar ao sacerdócio, uniu-se conjugalmente com uma recem-integrante do grupo, Nair, arribada com a galera do Casé, união de curta duração, tendo sido a mesma vitimada por uma crise cardíaca proveniente de uma insuficiência respiratória aguda.
Nessa época já me encontrava em Belém do Pará, quando recebi a notícia do desenlace; escrevi à época um longo e belo poema que enviei, datilografado, xerocado, pelo Correio, a todos. Em minha primeira estada no Rio, passei alguns dias em sua companhia no apartamento em que moravam em Jacarepaguá, onde assisti um homem chorar sua dor, ao descrever os derradeiros momentos de Nair em seus braços, e chorei com ele.
Depois o levantar-se, constituir outra família, que em seus derradeiros dias aqui entre nós, apresentou-nos com muito orgulho, momentos os quais temos brilhantemente registrados no Blog da Turma de Olaria.
Desde os meus tenros anos de adolescente que o conheci, primeiramente celebrando o casamento religioso de uma das minhas irmãs. Depois, atendendo-me em confissão, por mim solicitada, preparatória à Páscoa escolar do Colégio Ferreira Viana, onde cursava a 2ª série ginasial, com cerca de 14 anos de idade e da qual resolvera participar.
Para meu espanto, não dirigiu-se ao tradicional confessionário e, em mangas de camisa, convidou-me a sentar em um banco da grande nave branquinha da Igreja de São Geraldo; face a face; sorriso nos lábios.
Começou a demolir um a um os velhos conceitos de pecado que haviam sido introduzidos em nossas cabecinhas, por aquela ladainha esclerosada de que pecar contra a carne era a suprema desobediência à vontade divina. Pela primeira vez fui introduzido à lógica do Amor Divino, à perfeição de seu plano original, e o egoísmo como o supremo mal, que acorrentou o homem ao longo da história e gerou todas as distorções que se institucionalizaram.
Paralelamente a esse discurso revolucionário, conheci outra de suas práticas oriundas de sua vocação sacerdotal, a dar assistência à Dª Jandira, sogra de meu irmão Jorge Eduardo, que há muitos anos jazia em um leito doméstico, com movimentos só de cabeça mas com raciocínio perfeito. Nessa época, como minha mãe, sensibilizada pelas condições de vida da sogra de seu filho, passou a visitá-la e ajudar nos cuidados higiênicos que a mesma necessitava, apesar de mamãe ser evangélica (membro da 1ª Igreja Batista de Olaria, na Rua Angélica Mota), conheceu Cipriano e tornaram-se bons amigos.
Num primeiro momento, quando se constituiu o Grupo de Jovens de São Geraldo, núcleo original da hoje Turma de Olaria, dos três jovens padres espanhóis, que integravam a equipe que assumiu a condução da paróquia, foi o já também falecido Padre Severiano, que ficou com a tarefa de orientar-nos.
Mas meu deslumbramento com aquele novo universo de idéias e práticas foi tal, que aceitei um convite de Cipriano para assumir uma turma de catequese infantil, dentro de uma proposta pedagógica nova e revolucionária, que implicava a que, após a 1ª Comunhão, a criança permanecesse por mais 03 anos, voluntariamente, freqüentando um Programa de Pós-Catecismo, voltado para sua formação integral. Funcionava aos sábados, pela manhã (das 09:00 às 11:00h), tendo eu assumido uma turma de 1º ano pós comunhão, composta por cerca de 15 meninos na faixa dos 07 aos 09 anos.
Nas sextas-feiras à noite, por volta de 20:00h, quando deixava as aulas do Colégio Ferreira Viana, pegava o trem da Leopoldina, descia na Estação de Olaria, e ia à reunião da equipe de catequese, na salinha de reunião do fundo da secretaria da matriz (onde também funcionava o famoso mimeógrafo revolucionário Gestetner, também apelidado de "Trotikinho", pois se acionasse seu botão, logo começava a cuspir panfletos políticos, Ká Ká Ká Ká!!!). Essas reuniões, conduzidas com didática e brilhantismo pelo Cipriano, estendiam-se até 23:00h ou mais, nas quais manuseava-se o excelente material didático publicado pela Editora Vozes, sempre fazendo a vinculação entre as passagens bíblicas e a realidade do dia-a-dia das pessoas. Aprofundei muito o pensamento teológico, superando as incontáveis versões mágicas e alienantes da realidade.
Depois que o Severiano resolveu deixar a paróquia de São Geraldo, para criar uma nova comunidade na Vila da Penha, no antigo Largo do Bicão (que o Severiano só conseguia falar "Vicòn") e que dentro de sua postura revolucionária propôs chamar-se de Jesus Ressuscitado (pois, segundo o mesmo, eliminaria a figura da imagem do "Padroeiro"; no altar, haveria apenas uma caverna vazia com uma porta de pedra removida – Ele havia Ressuscitado!), Cipriano foi designado para assumir o Grupo de Jovens, em suas reuniões semanais para tratar de atualidades, e suas inaugurais iniciativas de mobilização popular, através de Encontros da Juventude, montagens teatrais, etc, etc...
Dando desdobramento ao trabalho iniciado por Severiano, logo conquistou com garra a simpatia e o afeto de todos, não medindo esforços para nos impulsionar na luta pelos ideais que aprendíamos a defender. Acompanhava-nos nos encontros e happenings internos que organizávamos, em aprazíveis sítios como em ...., deslumbrante fazenda-seminário próxima de Volta Redonda, pertencente àquela diocese.
Nunca impôs seu ponto de vista nem permitiu que qualquer facção conduzisse o processo, mesmo que certos questionamentos levantados pudessem levar a uma renúncia a fé.
Após renunciar ao sacerdócio, uniu-se conjugalmente com uma recem-integrante do grupo, Nair, arribada com a galera do Casé, união de curta duração, tendo sido a mesma vitimada por uma crise cardíaca proveniente de uma insuficiência respiratória aguda.
Nessa época já me encontrava em Belém do Pará, quando recebi a notícia do desenlace; escrevi à época um longo e belo poema que enviei, datilografado, xerocado, pelo Correio, a todos. Em minha primeira estada no Rio, passei alguns dias em sua companhia no apartamento em que moravam em Jacarepaguá, onde assisti um homem chorar sua dor, ao descrever os derradeiros momentos de Nair em seus braços, e chorei com ele.
Depois o levantar-se, constituir outra família, que em seus derradeiros dias aqui entre nós, apresentou-nos com muito orgulho, momentos os quais temos brilhantemente registrados no Blog da Turma de Olaria.
Luiz Antônio Bandeira
2 comentários:
Guina, muito obrigada, ainda estou no processo de dor pela morte do Cipriano, mas foi muito bom poder ver as fotos dele, ainda bem junto dos amigos e da linda família.
Muito obrigada, beijos.
19/12/2011
Fiquei deveras surpreendida com a notícia do meu amado cunhado Cipriano. A muito que tentava entrar em contato com o mesmo. Homem boníssimo, amigo da família, maravilhoso com minha irmã Nair.Em suma , Deus sabe o que faz...
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