quarta-feira, 13 de outubro de 2010

020 > Tempos que deixaram saudade. Ou não...

Carlos mandou este texto, que diz tudo.

São 40 anos e a vida de cada um tomou rumos diferentes. Daí as pessoas serem hoje, às vezes, muito diferentes do que eram. Ou não. O que pesa na nossa história é termos nos formado adultos a partir de um tempo de convívio íntimo que nos deu valores, ética, projetos de vida e permitiu reflexões do vivido a cada momento. Aquele tempo era muito especial. Não o tornei um fetiche. Era um tempo com alegrias e tristezas, esperança e desesperança, satisfação e decepção. Como todo o tempo da vida. E essa mesma vida que nos dirige a todos, guardando o inesperado a cada dobra de esquina, nos leva a sermos o que somos e não querermos, mesmo que provisoriamente, algo ou alguém. Isso é o que penso sobre o episódio. Tudo bem! Ficamos com o que temos e que é muito bom.
Alguém tem alguma dúvida da crueldade presente em crianças e adolescentes? Quem duvida sofre de amnésia! Alguns mais do que os outros cometem absurdos para os adultos que somos. Fiz e fizemos um monte de "maldades", mas faz parte do jogo da adolescência. A turma, a panela, o grupo, o grupelho são estratégias de sobrevivência no cotidiano.
Pensem bem. Quem foi adolescente nos idos dos 60 enfrentou um tempo de mudança brusca dos costumes. Um movimento de mudança que gerou conflitos geracionais enormes, sofrimentos necessários para compor os adultos éticos que tenho certeza somos hoje. Meio assustados com o resultado dessas mudanças todas. Fico pensando o que seria uma Adriana, ou uma Cristina, ou uma Lúcia ou uma Vera ou Natália e todas as outras, enfrentando a barra de serem mulheres em um tempo de afirmação de uma nova mulher, completamente oposta as desperate housewives que eram as nossas mães; a maioria, pelo menos. Fico pensando o que eram os Luizes, os Augustos, Os Luíses Césares, os Paulo, os Emílios, os Paulinhos, os Guinas, os Dervais e todos os outros enfrentando a barra de serem homens diante dessas novas mulheres. Foi foda, né? Mas a gente sobreviveu e muito bem, acredito. Penso que a Turma de Olaria foi fundamental para nossa bagagem ética, nosso compromisso com o Humano e o mundo. Tenho muito orgulho desse tempo, em que pese os exageros, a irreverência, a maledicência do momento. Era tentativa de afirmação e diversão e de enfrentamento. Lembro do casamento do Charles, completamente fora dos padrões e que a noiva dele, por sinal, belíssima, disse na hora da troca de alianças que se casava com ele porque o amava e o amava porque ele era um homem que amava os outros homens. Isso ficou lá dentro da minha cabeça e da minha pessoa e resume bem o que creio que ficou para todos nós daquele tempo.
Meu pai (que já morreu e a quem o Luiz alcunhou de China - acho que por causa dos olhos rasgados, herança índia da Dona Philomena, minha avó) certa feita me mandou cortar os cabelos. Logo eu, Beatlemaníaco junto com a Rosinha, minha vizinha da Rua Antônio Rego, 82. Éramos um fã clube de dois no início da adolescência! Pois é, meu pai mandou cortar o cabelo. Fui ao barbeiro, nas Cinco Bocas e dei uma aparada básica. Voltei feliz da vida me achando um Paul MacCartney! Quando cheguei em casa ele quase me cobriu de porrada! Me mandou de volta e ordenou ao mesmo barbeiro que cortasse meu cabelo à Príncipe Danilo. Sai Paul, entra aquele sebosinho que não lembro o nome e que contracenava com a Janeth MacDonald nos musicais dos anos 20. Humilhado, voltei pela rua me achando um lixo e jurando fugir de casa quando completasse 18 anos. Só saí com 27.
Era esse tipo de coisa que a gente vivia e que nossos filhos e netos vivem hoje também. De outro jeito, mas com a mesma intensidade.
Por falha do administrador, faltava o trecho final do texto, que entra agora, 20/10:

Irreverentes. É. Era o que éramos, mas como forma de expressão do baita conflito. Confundíamos as coisas muitas vezes. Éramos arrogantes em tantas outras. Gente! Nós praticamente acabamos com as procissões. Lembram da enquete que fizemos para decidir se o povo queria aquilo ou não! Isto é de uma arrogância tremenda! Talvez eu tenha sido um dos mais irreverentes de todos!
Não sei bem em qual experiência teatral chegou pelas bandas de São Geraldo um cara que se propôs a ser diretor do espetáculo. Era um cara barbudo, meio esquisito, pelo menos é assim que me lembro dele! Em um dos ensaios eu estava aprontando todas, perturbando a disciplina do momento e ele, provavelmente pelas coisas que eu estava dizendo e/ou fazendo, me chama a atenção: Êh! Se aquieta aí, Leila Diniz!
Na hora fiquei ofendidíssimo, ferido no masculino! Mais tarde lembrando do episódio, percebi que foi um dos maiores elogios que recebi na minha vida! Irreverente, provocador, corajoso, indiscreto, exposto - Adolescente!!!
Querem mais? Fica para um outro capítulo. Afinal, isto não é uma biografia.
Beijo
Carlos


Ou não diz tudo?...
O que deixou (e o que não deixou) saudades da vida daqueles tempos?

3 comentários:

Guina Araújo Ramos disse...

Pô, Carlos,
só hoje, com essa confusão toda que rolou (e outras), é que parei para ler este seu texto!
Tb pq eu sabia que tinha profundidade suficiente para merecer toda minha (a nossa) atenção.
E como estou nesta história, nem quero comentar muito, só agradecer por vc refazer a sua parte nela. Falar mais seria apenas distrair a atenção do fundamental: a percepção (que vc recupera) de que tempos eram aqueles...

Vera disse...

Sabe, Guina & Cia,

O Carlos De foi de uma grande profundidade, nos na verdade revolucionamos, no bom sentido, ou melhor, no nosso bom sentido, a sociedade catolica daquela epoca.
Esse nos, e mais para as MENINAS...Hah!!!Hah!!!
Voces lembram que fomos nos que iniciamos a quebra do tabu de MULHERES não poderem entrar de calça comprida em Igreja!!!!
No pricipio so na nossa missa no sub solo era permetido,... depois esta missa foi transferida para a nave principal, no horario das 18.00h,... então so ai era permitido assistir missa de calça comprida!!!...
Ai, veio o Frei Jose e levou a nova ideia para a missa da Ig NS da Paz, em Ipanema,e a ideia explodiu,... mas a origem foi nossa!!!!( aposto que ninguem lembrava disso!!!)

Bjs aos veinhos de Olaria, Hah!!! Hah!!!
Verinha

Natália disse...

Ainda não consegui entender como mandar recados no blog, mas você manda pra mim, ok?
É sobre o depoimento do Carlos diz pra ele que me emocionou e que concordo plenamente com ele. Mesmo porque além da nossa vivi a adolescência do Felipe e Bernardo e agora estou atravessando a dos netos. São gerações, épocas e regimes diferentes mas a rebeldia é sempre a mesma.
O importante é que com o tempo a gente cresce e "alguns" se tornam pessoas do bem, como o próprio Carlos.
Beijos, Nat.