Vendrami envia a descrição de mais uma viagem ao estilo da turma de Olaria...
De carona com o Renatão para o sul
O Renatão era meu vizinho no IAPI da Penha, quando eu estava aquartelado na casa do Bandeira, do Bandeirão e de Da. Maria. Falando em ir de férias na casa de minha família em SC, o Renato se interessou em me acompanhar e fomos nós rumo sul, ao sabor da caronagem da turma para Foz do Iguaçu. A viagem da turma para o oeste do PR fez escola. Devia ser janeiro de 1971. Mochila ou bolsa, o Renatão com seu oclinhos de desenhista e eu com o meu fundo de garrafa fomos para a via Dutra, que caronear na Av. Brasil não dá pedal. O moço do Renault Dauphine (existiu isto?) vende fumo e se dignou nos ter como companheiros de viagem até Barra Mansa. Baldeação. O profissional do volante nos olha com certo espanto, tentando adivinhar o que querem dois rapazes na beira da estrada, que para ele é trabalho e para nós é só aventura. Agora é um caminhão, altão, ronco poderoso. Visão panorâmica. Vira pra cá, vira pra lá, contornando as meias laranjas do Vale do Paraíba. Viajar de graça é uma delícia, uma deliciosa irresponsabilidade.
Periferia de São Paulo. Atravessamos a metrópole e agora tem a Regis Bittencourt com gosto de sul. Muita floresta. Muito buraco. Estrada da Morte. Sobe e desce serra. Carrega banana, peças de automóvel, cama de campanha, minério ou vaso sanitário. Obrigado, moço. Vamos de novo para o acostamento. Melhor é ser perto da Polícia Rodoviária que é mais seguro, mas eu não ficaria tranqüilo se meu filho se metesse numa viagem dessas.
Chegamos em Curitiba, cidade sorriso. Grana curta, fomos à procura de uma pousada, que dormir no banco da praça é quase humilhação. Acabamos numa casa de fama duvidosa. Percebendo a situação, pulei para trás como que picado por uma cobra. Eu garanto que foi o sacana do Renatão que me armou aquilo, porque ele ria do meu embaraço de ex-seminarista... Feito isto, fomos bater no convento. Eu estivera atrás destes sagrados muros em 66/67. O Frei Solano se apiedou de nós e nos ofereceu a sede do grupo de escoteiros. O chão é duro, mas acima de nós tem um teto. Eu conhecia o lugar porque fora Kaá de Lobinhos, tendo como Aquelá uma linda loura, de porte alemão, chamada Ingrid. Agradáveis lembranças... Lugar mais digno e seguro do que as casas das mulheres do mundo... Sonhos com caminhos e caminhões. Café da manhã de pão com manteiga. Obrigado, frei, paz e bem.
Rumo a Lages, paisagens, sotaques, caras e ares familiares, pinheiros e pinheirais, o planalto catarinense. O moço que nos aceita como companheiros leva a sua carga e nós levamos os olhos cheios de aventura e ingenuidade. Inocentes anos 70. Mas tem que ter um papo adequado com o irmão da estrada, dizem os entendidos...
Em Lages, ficamos na casa de periferia de meu irmão bombeiro que, fugido de uma enchente numa plantação de arroz, começava nova vida, com a Edite que foi minha coleguinha de escola primária (nos anos 50). Ele esperava ficar rico comprando o carnê do Baú da Felicidade, do Silvio Santos, vendedor de ilusões...
Ficamos uns dias olhando aquele planalto que nunca se acaba e descemos para Blumenau, acho que desta vez foi de ônibus. Parece que aquela estrada não era muito aconselhada a caroneiros. Nesta bela cidade do vale do Itajaí, Renato ouviu papos familiares em italiano, comeu polenta com queijo, chucrute e salsicha com mostarda escura e apreciou as galegas espetaculares que enfeitam suas lojas e ruas. E então voltou pra casa, para o IAPI. De busão.
Eu fiquei mais umas semanas para dar uma circulada na casa dos meus bravos irmãos, migrantes da roça que iniciavam vida e família na cidade industrial. E então eu, catarioca, voltei para a vida dura de trabalho e estudo aqui no velho Rio, minha cidade de adoção. De busão...
Eu fiquei mais umas semanas para dar uma circulada na casa dos meus bravos irmãos, migrantes da roça que iniciavam vida e família na cidade industrial. E então eu, catarioca, voltei para a vida dura de trabalho e estudo aqui no velho Rio, minha cidade de adoção. De busão...
Paulo Vendrami
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4 comentários:
Oi, Vendrami,
Agora nós é que vamos de carona na sua narrativa e viajamos junto com vocês. Não pare por ai; tem muita estrada para ser (re)vista!
Ei, Vendrami, o texto ficou muito legal. Gostei do estilo conciso e divertido.
Administrou bem o tamanho, deu na medida e agora pode acrescentar detalhes nos comentários.
Talvez não haja muitas reações pq só vcs estavam nessa, mas tenho certeza de que todos vão gostar.
Valeu!
Guina
Guina, obrigado por sua apreciação. Vinda de um especialista me lisonjeia muito.
Creio que preciso explicar o que é Aquelá (oxítono) e também Kaá.
São dois personagens de Rudyard Kipling, que inspira o ramo Lobinho do movimento escoteiro, com o livro Mowgli, que todos vocês devem ter visto muitas vezes na TV.
Paulo Vendrami
Você precisa vir aqui me ensinar a usar esse troço, agora não abre nem carrega o meu imail, por isso vai pelo orkut.
"Para o Vendrami"
Alguém consegue imaginar essa dupla, Vendrami (a calma) e Renatão (acelerado)!
Cara, eu nunca soube dessa viagem!
Outra: ele foi para a turma como meu namorado, a gente havia terminado (falha de memória) ou foi uma escapada básica?
Beijos, Polinho, muitas saudades.
Nat.
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