Destaque para uma iniciativa diferenciada, muito especial: Fabio Daflon, sobrinho da Kika, está escrevendo uma biografia sobre ela (“não vai ser um livro triste”), que viveu em sua casa por um tempo, quando era garoto. Diz que “quem primeiro me fez conhecer a alegria foi ela. Essa tia me fez muita falta e deixou muita saudade”.
Fabio, inclusive, já fez um pedido geral para que colaborem com depoimentos (está lá nos Comentários da postagem 003 > Aos que se foram e repetido aqui). E nos envia fotos...
Os irmãos Gilberto e Cristina e a mãe, Noêmia |
Abaixo, trecho da abertura do livro que escreve, a princípio chamado KIKA – UM BREVE ROMANCE INFINITO:
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Na nossa meninice precoce, Cristina, antes de tia, eras a companheira dos sobrinhos mais imediatos; um deles te recorda agora, aquele que te perdeu com lágrimas secas, com dor maior que revolta. Ainda és sombra nas calçadas das ruas sem árvores. Nem mesmo o incêndio na casa-loja da tua mãe abateu-te, embora neste tenha-se perdido o diário de minha avó, o violino calado do vovô Agostinho, o envelope com mechas das tuas tranças, teus dentes de leite jogados no telhado.
O texto completo enviado por Fabio mais algumas mensagens já trocadas sobre a Kika e o livro estão nos Comentários desta postagem.
Que é espaço aberto para outras histórias sobre ela, para quem quiser aproveitar a lembrança e contar o que lembra...
Que é espaço aberto para outras histórias sobre ela, para quem quiser aproveitar a lembrança e contar o que lembra...
11 comentários:
Estou escrevendo uma biografia da Cristina, minha tia Kika que eu idolatrava quando era adolescente.
Já em novembro irei a Sâo Paulo entrevistar o Carlão, quem tiver coisas a dizer sobre ela pode me mandar para o email fabio.daflon@uol.com.br, peço que coloquem como assunto: biografia da Kika, também avisarei pela Vera quando o livro estiver publicado.
Um abraço
Fabio Daflon
[copiado de 003]
Abaixo o que talvez seja o início do livro KIKA_UM BREVE ROMANCE INFINITO_, este texto
inicial é de antes de vocês conhecerem minha tia. Tudo ainda pode mudar um pouco ou muito.
Vida plena. Foi curta como uma minissaia, que era moda recém lançada. De teu pai lembro apenas das pernas, um dia meu avô passeava comigo pela calçada e um ciclista quase me atropelou, chegou a bater no meu braço, eu era muito nova, uma menina de uns quatro anos no máximo, cuja boneca foi jogada na sarjeta, para sujar os cabelos e a roupa nova de lama fétida. Não chora não, Alice. Vamos dar um banho no tanque. Lembro apenas das pernas dele na frente do tanque e do barulho da água da torneira sobre a boneca vestida. Nem dos cabelos nem do rosto dele me lembro. Quem lembra alguma coisa da barriga para cima é meu irmão. Teu pai de cabelos enlutados de tão negros, não viu tua morte, morrera ele mesmo cedo, perdeu-se de ti ao morrer, mas não teve a tristeza de perder-te. Tua mãe nunca mais tiraria o luto do vestido rústico de algodão preto, com mangas e o decoro das viúvas de um homem só: decote fechado como a gola de uma camiseta de cotton. Na nossa meninice precoce, Cristina, antes de tia, eras a companheira dos sobrinhos mais imediatos; um deles te recorda agora, aquele que te perdeu com lágrimas secas, com dor maior que revolta. Ainda és sombra nas calçadas das ruas sem árvores. Nem mesmo o incêndio na casa-loja da tua mãe abateu-te, embora neste tenha-se perdido o diário de minha avó, o violino calado do vovô Agostinho, o envelope com mechas das tuas tranças, teus dentes de leite jogados no telhado. Mas foi este fogo maldito que te nos trouxe, Cristina, como hóspede na casa térrea, sob sobrado, onde moravam meus pais. Rua Luís Anchieta, no Jacarezinho. D. Lia, tua irmã, Alberto, meu pai, cunhado, mas um pouco teu pai substituto, numa hora difícil para vovó Noêmia suportar sozinha, ela , senhora das dores insuportáveis de mulher longeva que a metade dos filhos veria partir antes da morte reconfortante, ela, que de tão longeva, ao invés de morrer acabou. O tempo do verbo é acabou. No tempo esgotado como máquina de costuras e caixa de agulhas de linhas multicores capazes de cerzir laços indissolúveis mesmo na água mais destilada e insípida de um pano de fundo a ser lavado em lágrimas feitas para irrigar a saudade de ti, nome proibido.
Fabio Daflon
Prezado Fábio,
sou amigo da tua Tia Kika, na "Turma de Olaria" e quero dar-te um depoimento pessoal sobre aquela doce, iluminda, grandiosa criatura que foi, em vida, nossa eterna "Kika".
Sua abertura ao novo a todos surpreendia, dada sua origem em uma família "Católica-Tradicional", liderada por tua inesquecível avózinha Noêmia, que a todos nós recebia, naquela casinha-quintal aos fundos velha e saudosa "Loja de Vime" da estação de Olaria, permitindo que realizássemos festas e reuniões fenomenais como a "Festa Tropicália", imortalizada em foto coletiva a que já tivestes acesso.
Também era comum, pós a "Missa dos Jovens" que realizávamos no porão da Igreja de São Geraldo, fazermos informais reuniões no referido quintal, ou mesmo na pequena salinha, onde Cristina sempre brindáva-nos com peças tocadas em seu piano, a mais solicitada por todos, a "Pour Elise" de Beethoven, dentre outras.
Fomos surpreendidos e permanecemos chocados até hoje com sua prematura partida, tendo a certeza que ela vela por nós, no Céu onde se encontra.
Um grande abraço,
Luiz Antônio Bandeira.
Querido (permita-me tratá-lo assim) Fabio Daflon,
falando na tua avozinha Noêmia, e para mostrar que não éramos tão radicais assim,
num dos "Retiros Espirituosos" que realizamos numa fazenda-seminário em Barra do Piraí, para que a doce Cristina nos acompanhasse, concordamos em levar conosco Dª Noêmia, que teve comportamento exemplar e tolerante, para com tanta loucura cometida.
Um episódio que nos surpreendeu muito, foi com o seguinte fato: a turma mais "louca", liderada pelo Perfeito Fortuna, organizava, todos os dias, por volta de 06:00h da manhã, uma banda vocal com cada um imitando um instrumento, no estilo procissão, com um hino de missa que achávamos muito gozado e que tinha os seguintes versos:
"Queremos Deus, homens ingratos,
ao Pai solene ao Redentor...
Zombam da fé, os insensatos,
erguem-se em vão contra o senhor...
Pápárápápápá...
Da nossa fé ó Virgem,
o brado abençoai...
quermos Deus que é o nosso Reisssss
quermos Deus que é nosso Paisssss
quermos Deus que é nosso Reissss
quermos Deus que é nosso paisss"
(esses ssss prolongados era a imitação da fala das velhinhas)
Até aí, nada demais; só que a parte instrumental era acompanhada de dobrados, onde se cantava (com licença das expressões chulas):
"Bunda, Bunda, Bunda (bumbos)
caralinho, caralinho,
Bunda, bunda,
caralinho, caralinho...
Cú da mãe tem dente,
morde o pau da gente...
Bunda, bunda ,
caralinho, caralinho..."
Feita a confusão pelos corredores, com protestos dos que queriam dormir até mais tarde,
ouvi a saudosa Dª Noêmia, comentar, sem reprovação,
que não conseguia entender direito o que cantavam, só parece que falavam em "Bunda, bunda...", isso rindo-se!
Não é fantástico esse episódio?
Sei que irei despertar doces recordações na galera que viveu esse episódio.
Abração e beijos à todos.
Luiz Antônio Bandeira.
Prezado Luiz Bandeira
Breve mandarei uma dezena de fotos de Cristina para o teu blog. Irei a São Paulo na casa do Carlão em
início de novembro para entrevistá-lo e, óbvio, seu depoimento será acolhido com carinho. Preciso que
me ajude a contactar o Perfeito Fortuna para que eu possa entrevistá-lo também.
Teu email será copiado e mandado para o arquivo eletrônico do livro que estou escrevendo, ainda não sei
o título, mas estou tendendo a por o apelido dela como título: KIKA, com um subtítulo do gênero ROMANCE DE UM AMOR SEM FIM OU BREVE ROMANCE LUMINOSO, enfim uma história de amor, aceito sugestões para o subtítulo.
cordialmente
Fabio Daflon
Luiz Antônio
Minha avó viveu até os 95 anos, os últimos 13 com meus pais Lia e Alberto. Sempre teve muita picardia,
costurou shortinhos para orfanatos até os 93 anos. Foi uma das pessoas que o tempo acaba não morre,
minha avó acabou. O nome da Cristina nunca mais foi pronunciado na presença dela. Cristina levou lá para
casa uma outra música "... minhoco, minhoco, você beijou errado, a boca é do outro lado." O livro que vou
escrever KIKA_BREVE ROMANCE INFINITO, achei o subtítulo, não vai ser um livro triste, quem primeiro me
fez conhecer a alegria foi ela.
Essa tia me fez muita falta e deixou muita saudade.
Obrigado pelo carinho, meu querido.
Um abraço fraterno
Fabio Daflon
Aguinaldo
Não tenho exatamente um método para escrever o romance. Em relação a Cristina tenho apenas a epígrafe do romance de minha própria autoria:
" Uma sombra boa só desaparece quando a luz se apaga."
Mas cada vez mais me convenço que essa luz não se apagou, então pode postar no blog essa minha resposta abaixo da tua pergunta.
Estou num processo aberto de colheta de dados.
Essa semana vou scanear algumas fotos dela e mandar para o Luiz Antônio Bandeira.
Muito obrigado.
abraço fraterno
Fabio Daflon
Aguinaldo
Fique a vontade para publicar o que quiser no blog.
abraço
Fabio
Querido Luiz Antonio,
Vc é demais!!!!
Que memoria Fenomenal!!!
Tudo se passou realmente assim.
Me lembro agora que o Padre Cipriano, foi em minha casa convencer o Sr Darcy e a D Ondina de que poderia deixar que ele tomaria conta da filhinha deles, no RETIRO, em Barra do Pirai. E, convenceu.
Mas, o mesmo não deu certo com a Kika, e o jeito foi D Noemia ir junto.
No principio ficamos todos receosos, mas que nada, ela foi maravilhosa e curtiu muito a nossa baguncinha.
Beijos,
Verinha
Pô, Verinha!
Esse episódio do Cipri ir falar com o querido Sr. Darcy e com a saudosa Dª Ondina para autorizarem tua participação no "Retiro", é demais! Não me lembrava desse detalhe. Darcy sempre foi um Liberal! Pai d'égua (muito bom!) como se diz no Pará. Dê um grande abraço nêle.
Beijão,
Luiz Antônio.
Bom Dia! Luiz Antonio!
Nem eu me lembrava, mas qdo vc mencionou o fato da D Noemia, eu me lembrei....na hora.
Beijos
Verinha
Obs. Vc tá demais nas recordações, alias ce sempre foi bom de contar fatos...
Lembra que qdo vcs voltavam das longas viagens de carona por este Brasil,...
Era sempre vc o narrador dos fatos trágicos e hilários!!!
Vera e Banzé mandam este surrealista diálogo...
Oi, Banze,
Tudo bem!!!!
Lembrei agora daquela musiquinha que vcs cantavam para acordar a gente pela manhã, só não sei direito a letra (toma limonada pra cagar de madrugada...!!!!)
Bem que poderia recordar pro Guina
Bjs
Verinha
Oi, Vera, a músiquinha era essa que o bandeira escreveu acrescentando os versos que você lembrou.
kkkkkkk.
Paulo Banzé
o complemento da musiquinha!!!!.....
Verinha
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